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Como é o ver e o sentir de uma tarde de inverno pra cima no Cariri

 

O cenário do semiárido, no mês de janeiro, a temperatura, os cheiros e sabores, a saudade que remete ao pôr do sol – o rastro é a poeira, vista no vento de cima.
Tudo isso é retrato de um Cariri forte, valente, vivo e seguro de sua sobrevivência, resistente à escassez da chuva nesse período.
O vento sopra forte; as nuvens no céu se unem, na conexão maior de uma mudança; os pássaros cantam mais alto; os bodes e cabras voltam mais rápido para o curral.
As pessoas olham para o tempo: os olhos marejam, a pele arrepia, o café cheira mais forte. É o sinal da chuva, o cheiro da chuva, o barulho da chuva, o riscado de fogo no raio que cruza o céu. É o estrondo ordenado do trovão, gritado no terreiro por meu pai de “o pai da coalhada”.
Em estações que se mudam, brilha e bate o coração humano, com a abençoada chuva divina. Olhar o curso da chuva, proteger, “entrar para dentro de casa”, sentar, ouvir, contar… tudo isso faz parte de ouvir o primeiro pingo d’água bater na telha e sentir a quentura da Mãe Terra na acolhida do frio – pingo da chuva, num abraço da natureza, do quente e do frio.
Só resta a oração, a crença, a fé para surgir em si a vontade de recomeçar o plantio para a boa colheita – pena que ainda haja quem não sinta e tente não ver.
Aos que vêem e sentem, fica mais fácil tocar a vida em frente, na esperança da manhã boa e do bom entardecer.
Obrigado pelo espetáculo da
chuva no Cariri.
Aos que nela podem sentir o cheiro, vale viver a vida e fazer valer a vida, com quem também sente o cheiro da chuva que veio de cima.

De um dia de domingo
21/01/24
Carlos Marques Dunga Júnior