O piscar das pequenas lâmpadas a noite inteira enfeita cidades muito antes do Natal, ou muitos antes das eleições municipais, como prefeito bom é o que cuida dessa iluminação. Chama curiosidade, há quem anualmente, custe o que custar, desce até o extremo sul, para rever, pela enésima vez, a diminuta cidade de Gramado, que se enche, indo e voltando, dessa iluminação e doutras atrações dessa festa. Bem pudera, são descendentes europeus do Norte que celebram o Natal como a maior Festa do Ano, e depois a Páscoa. É possível que, desde outubro, elas não suportem esse piscar até o dia 25 de dezembro, tampouco até a Festa dos Reis, quando, de costume, o piscar se apaga e começa a ser substituído por enfeites do carnaval, que também contam com o prioritário interesse das prefeituras.
Há o Natal simples, em casa, os dois ou mais algum filho e uma pequena árvore em formato de pinheiro, com galhos entrelaçados pelas ditas lâmpadas, pequenas como se fossem estrelinhas. Alguns dispensam o algodão, que seria para arremedar a neve que, geralmente cai, nesse período, nos países bálticos. Segue-se à risca, comprando-se coisas de que nossa cultura menos precisa. E ainda se escreve, na lista de compras, um peru congelado, passas, pêssegos e figos secos. Fazer a árvore é fatigante, mas, nesse sentido, não se torna coisa de outro mundo, até as crianças ajudam a fazê-la, sempre como se fosse um pinheiro. Destoam os que querem ser mais nacionais e armam a dita árvore numa jaboticabeira ou apenas num galho seco de qualquer arbusto, que lembre a falta de chuva. Basta desenrolar a grinalda de ampolas, de cores diferentes em torno dos ramos, colocar as lâmpadas, e ter cuidado com um grande número de tomadas num “T”, para que elas não o esquentem e não provoquem um curto, evitando a festa ficar no escuro…
Há o Natal dos mais pobres, sem nada, talvez com algum brinquedo usado, doado pela igreja, que recolhe o que as crianças menos pobres não usam mais. Queijos e iguarias, nem pensar. É nesse onde Jesus prefere nascer, como, pela primeira vez, de fato o fez. Somente uma festa nos iguala em atitude, é a de entrada de Ano Novo, quando apagam-se as luzes da cidade, como sinal de que o ano terminou: todos igualmente ficamos no escuro. Uns procedem assim, à meia noite do Dia de Natal, e logo depois reacende a enfeitada árvore.
Se tudo não for feito com amor e pelo amor, essas coisas e fatos são apenas quase natalinos. Ou meramente comerciais, onde o lucro dita reclames, propagandas e convocações aos shoppings da vida, onde Jesus Cristo não é nem lembrado. Finalmente, do Natal simples, resta apagar as lâmpadas, guardá-las num caixa de cartão ou num velho isopor, e arrumá-lo num espaço da despensa, onde ficam as coisas de que menos precisamos, e onde até existem remédios sem validade ou fora do prazo.
Um Natal cristão é aquele pelo que se reviveu o nascimento de Cristo, isso é o essencial. Ademais, são coisas e fatos do supérfluo, do paganismo que se caracteriza como uma tentativa de atingir a realidade divina, mas que não passa de uma mera imaginação.