Carta Junina aos Netos
Temo escrever carta, secularmente utilizada em troca de amores, bons negócios e até para fazer história como a de Pero Vaz de Caminha; como as epístolas paulinas, comunicando-se com as comunidades cristãs primitivas sobre o amor e a caridade; servia para bons negócios e justificar desencontros na vida, como a de Heloísa a Abelardo. Receio escrever, logo agora, num tempo em que ela vem sendo infinitamente substituída por recadinhos orais e escritos via internet, em pequenos robôs, que insistentemente se apegam às nossas mãos, piores do que monstruosas e feiosas verrugas. Mas, depois de escrita, caros netos Lucas e João Vitor, a carta, poeticamente, pode ser colocada numa garrafa, e depois de bem arrolhada, colocada no mar, levada pelas ondas, em sentido inverso ao do nosso interior, distanciando-se das menores cidades, que são mais juninas do que as cidades metrópoles e praieiras. E distante, bem distante, apanhada por algum marinheiro ou pescador, dar-lhes-á notícias de que, por aqui, existe São João, sua festa e tantas coisas derivadas.
Uma delas foi a escola ter ensinado João Bernardo, 3 anos, vir dizer a mim: “Vovô, quem inventou o forró foi Luiz Gonzaga”. Eu, entusiasmado pela então transmissão cultural às futuras gerações, o que sempre sonhei, diante daquela pequena criança, completei: Tocando acordeom, no que fui corrigido: “Não, foi não, foi sanfona”… Crianças de hoje, muito desinibidas, têm licença de corrigir gente grande, sobretudo pais e avós… Ou dão aula no manuseio com coisas eletrônicas e seus aplicativos, às quais nossos dedos andam enferrujados… Por isso nos alegra a inteligente esperteza desses meninos, sobretudo para a mãe elogiá-los, fazendo inveja, dentro e fora da família. Otto, 3 anos, logo cedo, sem camisa, no jardim, espreguiçando-se para ir à aula, é provocado pelo frio a comparar a frieza pelo imaginário do olfato: “Sinto o cheiro de Campina Grande”, lembrando-se das maravilhas da casa do neto Mateus, 6 anos, seu primo, companheiro de travessuras.
Escrevo, sentindo por todos os sentidos, inclusive o perfume, respirando os ares da Serra da Borborema, onde e quando, 23 de junho, mais do que em qualquer lugar com fama de folguedos e folganças desse mês, sentimos o conforto do frio de Bananeiras, Serraria, Areia, Umbuzeiro, Teixeira ou da Serra do Pirauá, onde poderemos desfrutar de um tradicional São João e de tudo que com ele se relacione: novenas, milho verde e comidas de milho. Ainda acenderiam fogueira, soltariam balão, caso, quadrilha, forró e essas coisas não fossem proibitivas nesse período de isolamento e proteção contra a amedrontadora Covid 19. E atualmente, já conscientes, não soltamos balões, evitando queimar matas e florestas, não oferecendo inclusive pretexto aos invasores da nossa Amazônia… A vocês, meus netos foram liberados traques, bombas chilenas e estrelinhas, mínima liberdade de brincar com fogo.
Contudo, a internet também possibilita comemorações com apresentações artísticas virtuais, deixando-nos, confortavelmente, em casa, como falam os matutos; ou, como os estrangeiros, home, vendo e ouvindo, cantando ou dançando, pelas redes sociais. No ano passado, a Cultura, através Governo do Estado, realizou o São João na Rede. Sucesso! Nesse ano, repetiu, durante quase uma semana, com trios e artistas, pelo interior, a começar por Itabaiana, e viajando através de Caldas Brandão, Areia, Guarabira, Campina Grande, João Pessoa, São José do Bonfim, Santa Luzia, Patos, Monteiro, Sumé e Cuité. Outros municípios ou esses mesmos seguiram o exemplo, e haja São João na rede e no chão. Chegam a dizer que o São João é uma festa nacional, mas o bom e gostoso, começa e termina na Paraíba. Depois, daqui, de Campina Grande, há ótima estrada, não me perderei na volta, “caminho trilhado não cria mato”, tampouco brenha, apesar dos meus netos acharem Campina Grande muito longe, durante a viagem; e, ao chegarem junto aos seus, bem próxima do coração.
Temo escrever carta, secularmente utilizada em troca de amores, bons negócios e até para fazer história como a de Pero Vaz de Caminha; como as epístolas paulinas, comunicando-se com as comunidades cristãs primitivas sobre o amor e a caridade; servia para bons negócios e justificar desencontros na vida, como a de Heloísa a Abelardo. Receio escrever, logo agora, num tempo em que ela vem sendo infinitamente substituída por recadinhos orais e escritos via internet, em pequenos robôs, que insistentemente se apegam às nossas mãos, piores do que monstruosas e feiosas verrugas. Mas, depois de escrita, caros netos Lucas e João Vitor, a carta, poeticamente, pode ser colocada numa garrafa, e depois de bem arrolhada, colocada no mar, levada pelas ondas, em sentido inverso ao do nosso interior, distanciando-se das menores cidades, que são mais juninas do que as cidades metrópoles e praieiras. E distante, bem distante, apanhada por algum marinheiro ou pescador, dar-lhes-á notícias de que, por aqui, existe São João, sua festa e tantas coisas derivadas.
Uma delas foi a escola ter ensinado João Bernardo, 3 anos, vir dizer a mim: “Vovô, quem inventou o forró foi Luiz Gonzaga”. Eu, entusiasmado pela então transmissão cultural às futuras gerações, o que sempre sonhei, diante daquela pequena criança, completei: Tocando acordeom, no que fui corrigido: “Não, foi não, foi sanfona”… Crianças de hoje, muito desinibidas, têm licença de corrigir gente grande, sobretudo pais e avós… Ou dão aula no manuseio com coisas eletrônicas e seus aplicativos, às quais nossos dedos andam enferrujados… Por isso nos alegra a inteligente esperteza desses meninos, sobretudo para a mãe elogiá-los, fazendo inveja, dentro e fora da família. Otto, 3 anos, logo cedo, sem camisa, no jardim, espreguiçando-se para ir à aula, é provocado pelo frio a comparar a frieza pelo imaginário do olfato: “Sinto o cheiro de Campina Grande”, lembrando-se das maravilhas da casa do neto Mateus, 6 anos, seu primo, companheiro de travessuras.
Escrevo, sentindo por todos os sentidos, inclusive o perfume, respirando os ares da Serra da Borborema, onde e quando, 23 de junho, mais do que em qualquer lugar com fama de folguedos e folganças desse mês, sentimos o conforto do frio de Bananeiras, Serraria, Areia, Umbuzeiro, Teixeira ou da Serra do Pirauá, onde poderemos desfrutar de um tradicional São João e de tudo que com ele se relacione: novenas, milho verde e comidas de milho. Ainda acenderiam fogueira, soltariam balão, caso, quadrilha, forró e essas coisas não fossem proibitivas nesse período de isolamento e proteção contra a amedrontadora Covid 19. E atualmente, já conscientes, não soltamos balões, evitando queimar matas e florestas, não oferecendo inclusive pretexto aos invasores da nossa Amazônia… A vocês, meus netos foram liberados traques, bombas chilenas e estrelinhas, mínima liberdade de brincar com fogo.
Contudo, a internet também possibilita comemorações com apresentações artísticas virtuais, deixando-nos, confortavelmente, em casa, como falam os matutos; ou, como os estrangeiros, home, vendo e ouvindo, cantando ou dançando, pelas redes sociais. No ano passado, a Cultura, através Governo do Estado, realizou o São João na Rede. Sucesso! Nesse ano, repetiu, durante quase uma semana, com trios e artistas, pelo interior, a começar por Itabaiana, e viajando através de Caldas Brandão, Areia, Guarabira, Campina Grande, João Pessoa, São José do Bonfim, Santa Luzia, Patos, Monteiro, Sumé e Cuité. Outros municípios ou esses mesmos seguiram o exemplo, e haja São João na rede e no chão. Chegam a dizer que o São João é uma festa nacional, mas o bom e gostoso, começa e termina na Paraíba. Depois, daqui, de Campina Grande, há ótima estrada, não me perderei na volta, “caminho trilhado não cria mato”, tampouco brenha, apesar dos meus netos acharem Campina Grande muito longe, durante a viagem; e, ao chegarem junto aos seus, bem próxima do coração.
Damião Ramos Cavalcanti