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Blog do Vavá da Luz

CAIXINHA DE SURPRESAS! (MARCOS SOUTO MAIOR (*)

 

                Os chamados ‘trabalhos manuais escolares’ de hoje são sofisticados e de boa qualidade, bem diferente dos que fazíamos no colégio marista e, valendo nota para o ‘boletim’ mensal do Curso Ginasial. Este, que ficava abaixo do Curso Primário e acima do Curso Científico ou Clássico para, finalmente subir os degraus da universidade. Pois bem, sempre fui meio desajeitado para essas atividades que diziam ter por finalidade, sentidos como a criatividade, autoconfiança, paciência, determinação e cooperação grupal, contudo, sempre integrei meu grupo de trabalho. As dificuldades logo apareciam no experimentar de fazer qualquer coisa, por exemplo: um porta-retratos de madeira, pintar quadros em tela, cartolina, feltro e tecido, modelado e escultura de argila, por fim, até uma grande manjedoura apareceu, com pedaços de madeiras para sustentação, coberta de plásticos nas paredes e, destaque para uma estrela dourada que anunciava o Natal.

                Certa vez, a professora mandou-me fazer uma ‘caixinha de surpresa’, utilizando folha de cartolina grossa azul clara, fita de cetim encarnado, cola de sapateiro, uma tesoura grande e outra pequena. Coloquei tudo numa mesa grande, e me animei trazendo papel, régua e lápis na mão, para desenhar a formatação desejada: quinze centímetros por vinte e dois nas larguras, para altura de cinco centímetros. Depois de tentar e gastar muito material, consegui que às partes nas extremidades fossem dobradas com pequena margem, a fim de serem coladas nos lados de dentro, numa engenharia não simétrica, que terminou me deixando impaciente e com dor de cabeça. O laço vermelho em cima da tampa fora experimentado não sei quantas tentativas e, com ajuda eficiente, de minha irmã Lucinete, conseguimos armar a caixa cobiçada!

                Imaginei pronta e acabada minha primeira incursão nos trabalhos manuais, mas o vazio não aguentaria algo importante ou coisas pesadas… Flores naturais, que são bonitas, logo murchariam, e tristonho entreguei assim mesmo a minha professora Fransinete que recebeu e ainda deu nota oito ao exercício escolar. Aí me lembrei da namoradinha, decidindo lhe entregar vazio, numa gostosa brincadeira de adolescentes. Sem tempo perder, meio trêmulo entreguei a caixinha, ela foi logo abrindo com um sorriso sutil, desenlaçando o cetim vermelho e, ao mesmo tempo, olhei e segurei suas mãos, começando a dizer-lhe tudo o que imaginaria para declinar ao amor. O tempo passou muito rápido aqui deixando no imaginando destino, minha transitória caixinha!

                 Chego à conclusão de que a vida é uma autêntica ‘caixinha de surpresa’ guardada com todo carinho e fidelidade, onde as situações são lançadas no inconsciente de cada um de nós, na intenção decidida de se chegar ao destino cultivado do por vir. Sim, porque o pequeno tesouro engloba tudo e mais alguma coisa em nossas vidas, superando os momentos de desânimo, tristeza, perda e inconsequência para logo alçar a determinação imposta pela esperança sempre lembrada, em não deixar fraquejar. Muito melhor do que ver, é simplesmente sentir tudo que se amealhou no nosso cofre da vida e assim, poder resgatá-lo sempre que necessitar para poder bem viver.

(*) Advogado e desembargador aposentado