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Blog do Vavá da Luz

CAFAZESTE (Marcos Pires)

 

Eu acredito que boas histórias são como saúde e dinheiro; sempre bem-vindas, como essa que ora transcrevo e que realmente aconteceu tempos atrás na cidade de Pombal, aqui na Paraíba. Quem me contou foi o amigo Soneca, uma verdadeira hipótese, como diria Dr. Dorgival se o tivesse conhecido. Diz Soneca que vivia naquela cidade um comerciante conhecido como Severino Cafazeste. Era assim mesmo, com z, pelo menos o dono da história é quem garante.

Pois bom, esse tal Cafazeste possuía um pequeno comercio (uma venda, como queiram) e ali negociava poucos gêneros alimentícios e algumas bebidas, entre elas a famosa cajuína Colibri. Para a tal Colibri, Cafazeste comprava cinco garrafas de guaraná Dore e desdobrava em vinte e quatro garrafas de cajuína, adicionando água. Esse mesmo tipo de, digamos, indústria, ele utilizava na produção de água mineral, só que mais radicalmente ainda; o enchimento das garrafas vazias de água mineral era feito diretamente na pia da cozinha, vendendo cada garrafa a cem mil reis. Um belo dia estabeleceu-se em frente à bodega de Severino Cafazeste um comerciante de Patos. Veio por cima, com estoque maior e preços menores. É evidente que os clientes de Cafazeste começaram a abandonar o antigo comerciante e dirigir-se para fazer compras na nova “loja”.

Cafazeste poderia ter reagido de várias maneiras, entre elas obviamente enfrentar a concorrência através de uma briga de preços. Qual o quê! Preferia ficar à porta do seu estabelecimento maldizendo o “amarelo safado” que vinha de fora enganar o povo da cidade. Num dia em que ele estava mais azedo ainda, topou com o compadre Atêncio Wanderley, que tentou fazer a defesa do novel comerciante:

“- Ô compadre Severino, esse homem não pode ser ladrão não. Se ele vende o produto a um preço mais baixo ele não está fazendo nada contra a população”.

“- Deputado Atêncio, isso é um safado, ele veio só para me perturbar. Me diga mesmo, me explique uma coisa; como é que pode ele vender a garrafa de água mineral da verdadeira a cinquenta mil reis se eu, que tenho fabricação própria, não aguento vender a menos de cem mil reis?

Não sei se a “indústria” de Cafazeste chegou a receber incentivos da SUDENE, mas com certeza merecia pelo pioneirismo da pirataria.