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Brasileiros no exterior ( Marcos Pires )

Brasileiros no exterior

Marcos Pires

Pra começar, essa coisa de que “quem tem boca vai a Roma” é a maior furada. Nem sentido faz. Na verdade a origem desse leguelhé é a revolta que os povos conquistados na antiguidade tinham da Roma poderosa. Portanto o correto seria “Quem tem boca VAIA Roma”. Lembro disso a propósito da constatação de que viajar ao exterior sem ter ao menos um conhecimento básico do idioma do país de destino é um convite ao caos. Portanto, não somente erroneamente Roma, mas em qualquer lugar há de se ter “boca”, saber falar.
Começo comigo mesmo. Me viro bem em inglês, espanhol e italiano. Porém meu francês é, digamos assim…de nada para acabou-se. Some-se a isso a fama que os franceses tem de serem chatos. Um amigo queixou-se: “- É muita frescura, só querem entender em francês.”. Claro, né? Portanto aprendi com Paula um mini discurso que sempre deu certo (pule essa parte, G.R., amigo querido). É mais ou menos assim: “- Jêtrêdesolé, non parlêfrançua, puvezvousmaider? Parlezvous português, espanhol ou anglais?”. Sempre que digo isso aos parisienses eles fazem uma cara de riso. Acho que é meu sotaque paraibano, pois não? Porém a partir daí as coisas fluem.
Diferentemente, brasileiros no exterior tem a certeza de que serão entendidos nos seus gestos, falando alto e principalmente esperando que os locais entendam seus absurdos.
Lembro de uma madame paraibana que recepcionamos quando passei um tempo em Londres, no início dos anos 70. Desembarcou com duas possantes malas em Heatrow onde esperávamos por ela. Ao chegarmos no taxi ela apontou para aqueles verdadeiros armários e comandou ao motorista, num sotaque bem nosso: “-Bituim, bituim!”.
De outra feita, ainda em Londres e na mesma época, Josafá recebeu um amigo paraibano cujo sonho era comprar camisetas da escuderia de Emerson Fittipaldi. Josafá levou-o lá e disse que se precisasse poderia ser o interprete. O amigo ofendeu-se. Por quem o tomava? Pouco depois Josafá viu-o saindo do provador com a camiseta pendurada no pescoço e dirigir-se à vendedora abrindo e fechando os braços: “-Reve uma mai…or? Mai…or?”.
Contaram-me que um rico empresário daqui chegou num PUB londrino, pediu um uísque e do alto de sua ignorância perguntou ao barman: “- Have wall here?”. Queria um tira-gosto, que aqui à época chamavam parede.
Teria ainda muitas outras histórias, como a da estátua equestre, mas cadê espaço?