Boa Vista foi a denominação dada pelo bacharel José Amâncio Ramalho às terras que comprou ao capitão João da Mata. O rio Canafístula circundava o aglomerado, e quando foi barrado, inundou imensa área pertencente a vários proprietários. Antonio Nogueira Campos, outro pioneiro, ficaria com seu engenho ilhado do outro lado do rio, com grande porção de terras cobertas pelas águas do açude. Nas cheias invernosas, o engenho de seu Tota só era alcançado por rudes embarcações. Em escritura lavrada em 1920, Amâncio adquiriu terras de um pernambucano domiciliado em Timbaúba, chamado José Cavalcanti. Essa gleba ficava entre o rio Canafístula e a estrada de rodagem que vai de Borborema à Bananeiras, limitando-se com as terras de doutor Nuno Guedes e que seriam inundadas pelo açude de propriedade da Hidroelétrica Borborema.
Com os empreendimentos que Amâncio implantou – a fecularia, um engenho de rapadura, uma despolpadeira de arroz, a usina hidroelétrica – e a chegada do trem em 1913, Borborema tornou-se um centro comercial regional com muitos empregos garantidos e um comércio florescente. Era um bom lugar para se investir. Guilherme Groth, o alemão comerciante em Moreno e vítima de manifestantes que lhe queimaram os pertences após o afundamento de navios brasileiros pelas forças do Eixo, era previdente e temia o seqüestro de seus bens. Daí por que, comprara duas casas em Borborema. Em fevereiro de 1939 vendeu-as ao industrial Amâncio Ramalho. Cheguei à conclusão que se tratou de uma venda simulada. O que o alemão queria mesmo era evitar perder tudo em conseqüência da guerra de seu País contra os Aliados, entre os quais o Brasil. Pela descrição das casas no registro escritural, identifico que em uma das casas seu Guilherme se instalou comercialmente, fazendo de meu pai seu sócio. Ficava na avenida Paraíba, praça 12 de novembro, hoje avenida Arlindo Ramalho. A segunda casa, “vendida” pelo alemão ficava na av. Ceará e tinha “quatro janelas de frente,entrada de lado e alpendre sendo murada do lado da av Pará e dando fundos para a av Amazonas”. A homenagem aos estados brasileiros nas ruas de Borborema foi também iniciativa do velho Amâncio. Os nomes das avenidas mudaram e como não existe na Câmara nem mesmo o registro de minha passagem como vereador, difícil será identificar essas ruas. Tarefa fácil para Rejane Sena, a escrivã local, pois essas escrituras foram lavradas por seu avô, Osias Guedes Alcoforado, casado com minha tia-avó Natércia.
Em 1943, o distrito bananeirense passou a denominar-se Camucá, cujo significado “terra deserta” não fazia jus à realidade. Cinco anos depois, o topônimo Borborema era novamente entronizado até ser consagrado na lei que criou o município, em 1959. Em 1962 chegaria a energia de Paulo Afonso, inaugurada na gestão do meu pai, Arlindo Ramalho.
Meu pai foi o primeiro prefeito eleito. Nas duas vezes em que ocupou o cargo, ao sair, elegeu seu sucessor Aristeu Uchoa Pinto como candidato único, completando ainda a façanha com a eleição de José Florêncio de Lima, o sexto prefeito eleito, por sinal, genro do primeiro prefeito nomeado, o ex-vereador Antonio Barbosa da Costa. A partir de então, quando meu pai passou a fazer política em Bananeiras, as disputas eleitorais tornaram-se mais acirradas.
Quem governou a cidade por mais de uma vez, também, foi o filho do pioneiro, José Amâncio Ramalho Junior que, igualmente, elegeria seu sucessor, Severino Maria do Nascimento. Depois surgiria José da Costa Maranhão, primeiro prefeito a ser reeleito. Amâncio Ramalho Junior, prefeito pela terceira vez, faleceu no exercício do cargo. Seu vice, José Renato Eduardo dos Santos assumiu e foi reeleito. Paula Gomes Pereira, é a primeira mulher a ocupar a prefeitura. A segunda, prefeita Gilene Candido, foi a primeira a ser reeleita e comemora os 62 anos da cidade que nos viu nascer.