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Blog do Vavá da Luz

Batata, o corno convicto. (Marcos Pires)

     Meu colega escritor Gabriel Garcia Marques explicou que por mais fantásticas parecessem suas histórias, a realidade sempre as superava. Ariano Suassuna, garantia que seus personagens eram absolutamente reais, que tinha convivido inclusive com Chicó em Taperoá.
      Eu conheci Batata desembarcando de uma cansativa viagem a Brasília. Motorista de taxi com ponto no aeroporto, Batata perguntou se eu era o advogado Marcos Pires. Bastou que eu confirmasse para que ele tomasse a palavra, só se calando quando chegamos ao destino. Vou resumir a história de Batata.
      Um dia ele chegou em casa mais cedo e encontrou a esposa com um negão de dar gosto. Diz ele: “- Doutor, se eu fosse mulher também teria me apaixonado por ele. Mas como ela era minha mulher aí a coisa ficou feia, né? Sai de casa só com a roupa do corpo, deixei os meninos com ela e chorei 3 dias seguidos. Alguns amigos souberam e queriam que eu matasse o urso, ou que matasse ela, mas eu pensei assim; eu ainda gostava dela e ela gostava dele, então se eu matasse o negão ela iria ficar infeliz. Já se eu matasse ela os meus filhos iriam ficar infelizes. Ôxente, pra que mais sofrimento do que o meu, né? Ai eu não matei ninguém. Depois daqueles três dias chorando eu toquei minha vida. Não quis mais me casar com medo, mas não deixei de gostar de mulher não. Quando a vontade aperta vou ali num tora rêio em Bayeux e fico satisfeito. As despesas diminuíram   demais, tanto que eu pagava diária de taxi dos outros e já deu pra comprar esse taxi aqui. Também aprendi a me virar; quando algum colega vem mexer comigo me chamando de cornaldo, corninho, eu digo logo: – Se apresse não que chifre é como consórcio, um dia você vai ser contemplado”.
           Batata hoje em dia divide uma casa com outro colega corno, que abandonou a casa pelos mesmíssimos motivos, talvez até pelo mesmo negão.
                Mas o destino faz suas trapaças. O negão não está mais dando a assistência amorosa que dava antigamente à mulher de Batata, e ele me contou, todo serelepe, que está se vingando do negão. Como assim? “- Ah, Doutor, quando ele sai de casa quem vai para lá sou eu”. Tentei convencer Batata de que vingança seria ele namorar com a mulher original do negão. Batata reagiu brabo: “- Doutor, o senhor é o melhor advogado da Paraíba, mas de chifre quem entende sou eu”.
                 Fiquei satisfeito com a divisão das competências.

Marcos Pires- [email protected]