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        Antes do celular, alunos e professores (Damião Ramos Cavalcanti)

          A maior gratidão aos professores é a eficácia do processo ensino-aprendizagem, verificável na formação dos seus alunos. Isto fala mais alto do que qualquer discurso, qualquer prêmio ou justa remuneração, que, desde Dom Pedro II, é prometida como prioridade, mas nunca cumprida. Dos alunos crescidos e formados, em todas compensadas ou lucrativas profissões, poucos isso reconhecem e cantam na nostálgica canção, Meus Tempos de Criança – “Que saudade da professorinha, que me ensinou o bêá-bá”. O que dói nesses docentes, cansados por tantos esforços, é a indiferença de um deseducado alunado, ao dar-lhes as costas, na hora da aula, trocando-os por triviais mensagens do celular.
          À vida escolar e à finalidade da aula, necessário se faz que aluno e professor interajam. Comparem-se as escolhas, ninguém vai ao cinema para sentar de costas para a tela. Exceto quem ali fosse apenas para aproveitar de uma cômoda poltrona e de um silencioso ar refrigerado, convidativos a uma boa sesta. Ninguém vai banhar-se no mar, sem entrar na água.  A finalidade da aula, na escola que deve ser sempre aprimorada, é precípua. Nesse sentido, há coisas necessárias para que finalidades se realizem.
          Conheci docente universitária que preparava suas aulas com esmero pela sua profissão. Algumas vezes a vi em lágrimas, ao relatar que, dos seus 22 alunos, no ensino superior, 16 estavam preferindo o celular aos seus ensinamentos ou às suas palavras, que tentavam conduzi-los ao processo de ensino-aprendizagem. Pôs esse seu desconforto como assunto ao debate em sala de aula, mas os aficionados pelo celular, como se estivessem hipnotizados, não levantaram o olhar. Já dentro do seu carro, ela chorou e decidiu requerer a sua aposentadoria proporcional, para se ver livre desse angustioso sofrimento…
         Quem sabe o que sejam ensino e escola ou teve a vida dedicada à educação bem teoriza que a aula não acontece, simultaneamente, com revista em quadrinhos, outras distrações, entretenimentos ou celular. Essa dura realidade prossegue, prevalecendo o celular, não somente na escola, até nas igrejas, mas também, a olhos vistos, nos restaurantes, onde namorados, noivos e sobretudo casados, após escolherem o cardápio no próprio celular, não param seus aparelhos nem quando comem os pratos servidos. Em casa, na sagrada ambiência familiar,  os próprios pais se comportam indiferentes aos filhos por idêntica razão. Nessas circunstâncias, o fundamento da educação familiar seria o amor e a compreensão que precisam de atenção mútua. O uso abusivo se torna associado a algumas doenças, especialmente psiquiátricas…
          Mas, na escola, ainda é possível que se corrijam esses malefícios, sobretudo depois da lei que proíbe o uso do celular aos estudantes do ensino fundamental e médio, desde que os dirigentes, professores, e sobretudo os alunos estejam convencidos da evidente separação: se aula, então aula. Mesmo que haja pais que aprovem a reclamação de que seria falta de liberdade tolher seus filhos, durante sua permanência na escola, do celular, como não fazem nos seus próprios lares. Muitos aplausos à lei, ora em vigor, e também aos que vão pô-la em prática, zelando pela prioridade do ensino, pela subsistência da escola, da aula, dos alunos e dos professores.
          Mesmo durante a recreação, entenda-se que serão esses momentos, privilegiadas oportunidades para a sociabilidade, sem isolamentos nos recantos dos pátios com celulares, quando jovens e crianças farão amizades e aprenderão a vida em grupo.   
 

Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 17

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