Ano Novo e o tempo é o tempo
A lógica das crianças causa surpresas a qualquer estudioso desse assunto ou aos filósofos, como a exatíssima e adequada definição circular de que “a girafa é uma girafa” ou “um elefante é um elefante”. Enquanto perdurar nelas a simplicidade dos conceitos, das ideias, isso acontecerá nas suas falas. O genial apóstolo Paulo de Tarso compreende: “Quando eu era criança, falava como criança, raciocinava como criança” (I Cor. 13, 11 – 12). Nesse sentido, um dos meus netos, ao viajar para festejar o Natal em Gramado, reclamou à mãe: “Nunca mais ando de avião, demora muito”. Ser-lhe-ia melhor uma viagem a uma distância mais curta, como as feitas às cidades circunvizinhas.
Muitos de nós adultos procedemos quase da mesma forma. Desvinculamos não tanto o do espaço, mas materialmente coisas e fatos, que, circunstancialmente, interrelacionam-se com a categoria do espaço, por acontecerem em algum lugar da nossa imaginação. Desse modo, o raciocínio é correto, mas com outras premissas, não adequadas também ao tempo da sua realização. Assim como ocorreu com a viagem, da Paraíba ao Rio Grande do Sul, sem se avaliar o percurso das distâncias, relativas ao espaço. Certa vez, dialogávamos com dois outros filósofos sobre essa misteriosa categoria que é o tempo. Então, fiz-lhes a provocante pergunta: O que seria o tempo? Ou, se não existíssemos quem mediria o tempo? As pedras, as árvores ou os pássaros? A indagação é hipotética, porque existimos e somos nós que contamos o tempo, dividindo-o, para afirmarmos o tempo da nossa existência e de outras coisas, concluindo assim que o tempo existe…
Embora eu considere o tempo a mais misteriosa das categorias cosmológicas de Aristóteles, ele é explicado por várias definições, mas não se termina claramente o que ele seja… Dentre elas, a enunciação de que o “tempo é uma convenção entre um antes e um depois”. Ora, se é convenção, o humano é quem o convencionaria. Por outro lado, vivo a pensar que haja o tempo para medirmos a existência das coisas. E volto à necessidade da nossa existência, ao contarmos as horas, os dias, os meses, os anos e os séculos. Nesse último Dia de Natal, lembramo-nos de dizer 2022 depois de Cristo, tendo-O como marco referencial do início dessa contagem.
E já nesse próximo dia 31 de dezembro de 2022, avançamos essa contagem para o primeiro de janeiro de 2023, festejando-o como os primeiros instantes do Ano Novo. Bem que as pedras não se interessariam por essa contagem, tampouco se alegrariam com a passagem de 2022 a 2023. Há também quem comente não suceder interrupção, o tempo é um continuum sem intervalos, seria, enquanto tempo, 2023 igual a 2022. Mas, alguns supersticiosos esperam que o proclamado Ano Novo esteja cheio de fortuna, saúde e de 365 dias felizes. Quanta à qualidade desse período de tempo, razão se dê a Santo Agostinho, que nos responsabiliza pelo que ocorrerá em 2023, como fomos responsáveis por 2022. Dizia o filósofo bispo de Hipona que é o homem que faz o tempo; e não o tempo, o homem. Tal fenômeno é coisa da nossa mente, da nossa psiché. E que tempo passado não sofreria descontinuidade, continuaria a existir no agora, como presente; e no amanhã, como futuro; ou que, ao contrário da divisibilidade do tempo , o tempo é um só. Afinal de contas, como definiriam as crianças, o tempo é o tempo…