No primeiro turno da eleição para Prefeito de João Pessoa, o eleitorado deu um sonoro não aos extremos. Rechaçou por completo as candidaturas representativas da esquerda – que foram humilhadas nas urnas -, mas também pôs pra escanteio os candidatos da extrema-direita.

Definitivamente, o bolsonarismo em João Pessoa não colou no pleito de domingo. Basta ver que o mais autêntico bolsonarista na parada, o deputado Wallber Virgolino, amargou um quarto lugar.

Wallber teve seus méritos nesta disputa, mas para quem incorpora um projeto capitaneado por um presidente da República e representa a onda conservadora que se ergueu em várias partes do mundo e no Brasil, ficou aquém do esperado.
A sobra desse processo é a disputa que, no segundo turno, põe de um lado o experiente Cícero Lucena (PP), de perfil identificado com o centro e as áreas mais nobres da cidade, e o estreante Nilvan Ferreira (MDB), este mais muito mais identificado com a periferia e, portanto, com as camadas mais pobres de João Pessoa.

Cronometragem
O segundo turno invariavelmente é uma nova eleição. Portanto, a partir desta segunda-feira (16), o jogo está zerado e uma acirrada disputa entre os dois sertanejos se descortina no cenário político da Capital.

Embora seja Cícero Lucena tarimbado tanto na política quando na gestão pública – ele já foi prefeito de João Pessoa duas vezes, vice-governador e governador da Paraíba uma vez, senador da República e ministro do Governo FHC – tem muito com que se preocupar nesta segunda etapa da disputa, na medida em que Nilvan chega ao segundo turno embalado e frustrando as expectativas daqueles (inclusive do colunista) que imaginavam que ele iria morrer na praia depois que se afastasse dos seus programas de Rádio e TV e que as chamadas figuras carimbadas da política entrassem em cena.

Teatro
Além de um experiente comunicador, no palco da política onde é estreante, Nilvan se revela um bom ator. Do ponto de vista ideológico é dotado do mimetismo do camaleão, podendo mudar de cor de acordo com a necessidade e a conveniência.
Ao comandar o radiofônico Correio Debate, Nilvan Ferreira apresentou-se como um autêntico bolsonarista. Foi cogitado até pela direção nacional do PSL, então partido de Jair Bolsonaro, para disputar a Prefeitura de João Pessoa por esta sigla.

Aqui não dá
O comunicador terminou embarcando no MDB de José Maranhão. A partir daí, começou a perder a identidade com o bolsonarismo, apesar da afinidade ideológica que mantém até hoje.

Em dado momento da campanha, quando percebeu que o discurso bolsonarista seria um tiro no pé para as suas pretensões políticas em João pessoa, Nilvan mudou radicalmente de postura e de discurso; se desfez do verniz de extrema-direita e abrandou o discurso, embora mantendo a artilharia na direção do ex-governador Ricardo Coutinho, contra quem se levantava uma onda de acusações investigadas pela Operação Calvário.

E Cícero?
Cícero Lucena tem lá suas vantagens sobre Nilvan Ferreira. A principal delas, a experiência acumulada como prefeito de João Pessoa, onde fez uma gestão digna de registro, embora ao final tenha sofrido uma experiência muito semelhante à que tem vivido o ex-governador Ricardo Coutinho, inclusive chegando a ser preso.

Além disso, Cícero Lucena saiu ileso de todas as acusações, inocentado de tudo pela Justiça, depois de anos de uma impiedosa campanha midiática em que, todo o dia, era chamado de ladrão, inclusive, pelos que hoje lhe aplaudem no mundo da comunicação.

Cícero disputa a Prefeitura de João Pessoa com o aval do Palácio da Redenção, na pessoa do governador João Azevêdo, um apoio pra candidato nenhum rejeitar.
Detalhe: No primeiro turno da campanha Cícero recebeu um apoio discreto do governador da Paraíba, mas segundo circula nos bastidores, neste segundo turno Azevêdo vai entrar de corpo e alma na campanha.

De quebra, Cícero Lucena ainda conta com o reforço do poderoso grupo Ribeiro que tem pretensões ambiciosas para 2022 e que, portanto, ter em mão o prefeito da Capital, o maior colégio eleitoral do Estado, é absolutamente indispensável.

Pesquisa:
Em tempo: em João Pessoa, o Ibope acertou em cheio o resultado das eleições.
Fica a pergunta: em quem o eleitor de esquerda votou?

 

Por Wellington Farias