A eleição para o governo da Paraíba em 1990 foi para o segundo turno em consequência da candidatura de João Agripino Neto, que impediu Wilson Braga de derrotar Ronaldo Cunha Lima no primeiro turno. Enquanto Braga obteve 43.3% dos votos naquele primeiro turno e Ronaldo 40.2%, Agripino “melou” o jogo com 11.9% dos votos apurados.
O que pouca gente lembra foi o violento nível que a campanha alcançou no segundo turno. Um pálido exemplo; uma das inserções de televisão (não existiam redes sociais naquele tempo) começava assim: “Essa mão nunca roubou, essa mão nunca matou”. Era pau puro de ambos os lados. Todo mundo ligado nos programas eleitorais.
Estas eleições de 2022 estão no mesmo caminho. Naquela época, lembro bem que até nos bares e restaurantes existiam as mesas dos que votavam em Braga e as mesas do que votavam em Ronaldo. Ladrão, assassino, cachaceiro eram os epítetos mais comuns usados pelos ensandecidos eleitores.
Tal qual as pesquisas eleitorais que ainda hoje são esperadas com sofreguidão, em 1990 o ápice eram os guias eleitorais, as surpresas preparadas pelos profissionais da publicidade.
No último dia de divulgação desses programas no segundo turno de 1990 esperava-se que os guias eleitorais viessem recheados de sangue.
O que aconteceu, entretanto, foi uma coisa inusitada. Enquanto o guia eleitoral de Wilson continuava no cacete, os bruxos da comunicação de Ronaldo editaram sobre um fundo negro a letra da belíssima música “Amanhã”, de Guilherme Arantes, interpretada por Caetano Veloso: “Amanhã será um lindo dia da mais louca alegria, que se possa imaginar; amanhã, redobrada a força, pra cima que não cessa, há de vingar. Amanhã, mais nenhum mistério, acima do ilusório, o astro rei vai brilhar; amanhã, a luminosidade, alheia a qualquer vontade, há de imperar. Amanhã, está toda esperança, por menor que pareça, existe é pra vicejar; amanhã, apesar de hoje será a estrada que surge, pra se trilhar. Amanhã, mesmo que uns não queiram, será de outros que esperam, ver o dia raiar; amanhã, ódios aplacados, temores abrandados, será pleno”.
No meu convencimento foi ali que Ronaldo emburacou no coração dos indecisos e venceu com 55% dos votos.
Do fundo do meu coração espero que o amanhã, com os ódios aplacados e os temores abrandados, seja pleno para todos os brasileiros. E mesmo que uns poucos não queiram, o amanhã será de todos que esperam ver o dia raiar.