Aloísio Catão, escoteiro de Deus
Quando a morte leva, um após o outro, muitos amigos, ela sugere interrogar se se aproxima a nossa vez. “Amigo é coisa pra se guardar (…) dentro do coração”, canta Milton Nascimento; e não para ser levado do nosso convívio. Seria o caso de se fazer mais amizades, substituindo-os no então quotidiano ou sendo quotidianas lembranças? Há quem, também, já na idade avançada, desperdice amizades, quando deveria preservá-las para, quando chegar seu dies illa, haja choros e lamentações da partida, enfim, desejos que continuasse entre nós. Se existe uma coisa da qual não podemos ser perdulários é das amizades. Nesse sentido, não há tempo a perder, tampouco amigas e amigos.
Em 1958, Monsenhor Aloísio Catão Torquato era apenas padre, “disciplinário” da 1ª e da 2ª Divisão, no Seminário Arquidiocesano da Paraíba, onde me recebeu, na antessala da histórica Igreja de São Francisco; eu e Raul Xavier Filho, vindos de Itabaiana ou trazidos pelos nossos pais, respectivamente, Inácio Ramos Cavalcanti e Raul Xavier; Raul, atualmente é Coronel do Exército, em Brasília. Desde então, quanto a mim, nunca deixei de morar em João Pessoa, exceto certo período, em Recife, em Roma, em Krefeld, em Paris e em Brasília, mas sem deixar a cidade, onde meu coração permaneceu interno. Catão foi a recepção desse internato, companheiro e amigo desses trajetos.
Como não lhe bastassem os 150 adolescentes e jovens sob sua tutela, no Seminário, o então Padre Catão se ocupou também da formação dos escoteiros em João Pessoa, cujo escotismo significava-lhe “desenvolver, na juventude, uma conduta ética, fundamentada em valores, vida em equipe, de espírito comunitário, liberdade de pensamento, responsabilidade e aperfeiçoamento da personalidade, em respeito ao individual e ao coletivo”. Não parou. Em 1997, ajuda Padre Juarez Benício, no EJC (Encontro de Jovens com Cristo da Paróquia de Nossa Senhora das Neves), quando Padre Juarez estava acamado por sofrer uma trombose cerebral. Por isso assumiu definitivamente o trabalho do EJC e as celebrações de Juarez Benício, no Pio X, deixadas por sua enfermidade e morte.
Talvez tenha sido essa experiência, junto ao escotismo, que o levou a ser Capelão, em Anápolis, na Base Aérea, como Capitão da Força Aérea Brasileira. Voltou à Paraíba para trabalhar com o Arcebispo Dom José Maria Pires, que lhe recomendou o “apostolado junto à juventude”. Durante o tempo de dirigente, no Seminário, foi também Ecônomo, responsável pelas finanças da casa. A morada dos seus pais era no Roger, rua da gameleira, aonde ia a pé, até comprar uma bicicleta Bristol. Dizia-se vaidosamente ciclista, quando ia passar os domingos com seu pai Catão, sua amada mãe Dona Santa e sua belíssima irmã Nevinha, admirada por todos os seminaristas que a conheciam. Sua vida modesta era linguagem que nos cativava, à qual vinha nos adicionando, seus “Mini sermão”, acolitado pelo Padre Zezinho. Lembro-me que, às vezes, citava minha crônica, no sermão dominical, daí, sua bondade, ao valorizar-nos. Assim, indicou-me para o prefácio a Stelo Queiroga, do livro sobre o amigo Catão, sua família: os Torquato, contendo ricos depoimentos sobre a magnânima pessoa que foi e é o Monsenhor Catão.