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Blog do Vavá da Luz

A PROPÓSITO DE TARCISIO BURITY                      RAMALHO LEITE

“Burity não é eterno”. Durante os debates na Assembleia Estadual Constituinte, essa minha advertência soava como um bordão. Era o aviso a um grupo parlamentar de oposição que pretendia fazer uma Constituição contra o governo de Tarcísio de Miranda Burity. Diante desse propósito conseguiram inserir na nossa Lei Maior, dispositivos que diminuíam o poder do Governador e, em alguns casos, até o retiravam. Era um confronto com o Governador em exercício, mas, sobretudo, um confronto com cláusulas da Constituição Federal, o que fazia da nossa Carta um amontoado de inconstitucionalidades.
Para o historiador Flavio Satyro, “essa multiplicidade de fatos polêmicos” envolveu a Constituinte, e era resultado de “dissenções ocorridas entre a maioria parlamentar e o Chefe do Poder Executivo, a  ponto de este negar-se a comparecer a sessão de promulgação da Constituição e a jurá-la”. O governador Burity foi o único governador do País a não prestar juramento à nova Constituição do seu Estado, até por que passou a contestá-la junto ao Supremo Tribunal Federal, derrubando todos os dispositivos considerados inconstitucionais.
Esse foi o Burity com quem convivi. Primeiro como adversário, discordando da indicação do chamado Comando Revolucionário e formando em bloco oposicionista na histórica convenção da ARENA, em 1978, quando, pelos votos dos delegados municipais, Burity venceu o deputado Antônio Mariz que se rebelara contra a escolha do Planalto. Vitorioso, proclamou: “Não busquei essa situação…. Assumo sem prevenções ou ódios, com o espírito aberto ao diálogo e à conciliação”.
Com a assunção de novos governadores a partir de 1979, começava a chamada abertura democrática e o governador da Paraíba recebeu a recomendação de chamar os políticos para mais perto do governo. Burity nomeou o deputado Edme Tavares para secretario de Estado. Esse gesto veio beneficiar justamente a mim que, pela rebeldia recente, pagara com a perda do mandato e ficara na primeira suplência de deputado estadual. Assumi de imediato e constatei que, realmente, o novo governador estava aberto ao diálogo e à conciliação.
A historiadora Glauce Maria Navarro Burity designou-me para a apresentação de seu livro TARCISIO BURITY, UM INTELECTUAL NA POLITCA PARAIBANA. Sócia efetiva e secretaria do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, dona Glauce, como é respeitada e carinhosamente tratada, já demonstrara seus pendores para pesquisa, quando revolveu as cinzas e os caminhos dos Franciscanos, revelando a ação de sua presença entre nós. Ao traçar a biografia do interventor Antenor Navarro, relembrou os meandros que nos levaram à chamada Revolução de 1930 que, entre nós, encontrou no jovem Antenor um dos seus líderes mais destacados. Agora, essa minha estimada confreira nos brinda com o traçado histórico, a obra e o legado do professor Tarcísio Burity. Destaco o professor, pois sei, era esse o titulo que mais o orgulhava.
Não sou um critico literário e a confreira Glauce Burity sabe muito bem disso. A minha escolha prendeu-se, pois, ao período de convivência que mantive com o governador Burity. Em seu segundo mandato de governador, fui o Líder do Governo  na Assembleia da Paraíba durante os quatro anos. Ele era agradecido pelo meu trabalho, mas não escondia sua verve, produto de ironia e bom humor. Quando o jornalista Marconi Gois, superintendente dos Diários Associados lhe contou uma resposta que eu dera a um deputado oposicionista em sua defesa, com a minha conhecida irreverencia, definiu: “Eu não tenho um líder, tenho um humorista”!
Eis porque fiz um discurso  mais afastado do livro e mais chegado ao homem, ao politico, ao administrador Tarcísio Burity. Como professor somei dois desencontros: Ele lecionava  português no curso clássico do Liceu Paraibano. Quando cheguei à sua turma, ele tinha se ausentado pera fazer curso na França. Foi substituído pelo professor Geraldo Medeiros. Em um curso de pós graduação na UFPB, era sua a matéria Filosofia do Direito. Foi substituído por Nelson Saldanha, da Escola do Recife, pois já exercia a governança do Estado. São fatos que não estão no livro, mas fazem parte da vida desse homem ímpar que o jornalista Nonato Guedes preferiu chamar – “O fenômeno Burity”. Rotulado, a princípio, de neófito e imaturo, o professor  Burity tornou-se o neófito mais veterano que já surgiu na politica paraibana.

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