A peixada
Marcos Pires
Leitores queridos, o saboroso assunto de hoje tem muito menos a ver com culinária do que com o nadismo, filosofia que sigo com sucesso desde muito tempo. Nessa busca incessante de não me preocupar com nada que importe (mesmo porque nada que importa vale nosso tempo já que não podemos interferir junto aos poderosos que decidem sem nosso consentimento sobre tudo que importa) restrinjo-me a alimentar o corpo com o que realmente vale a pena. Reduzi muito minhas opções gastronômicas. Cortei carnes, massas, doces, refrigerantes…quase cortei os pulsos, mas enfim deverei morrer com uma saúde excelente.
Limito-me a peixes e saladas, frutas e grãos.
E o campeão sempre será o peixe porque nasci, cresci e envelheci na beira mar. De outra banda aprendi desde sempre que quanto mais simples a comida mais saudável ela será. Daí me apaixonar pela peixada feita pelos pescadores em suas jangadas. Vocês já conheceram um pescador que tenha as tais taxas alteradas? Os caras vivem ao sol (vitamina d), exercitando-se no manejo da vela da jangada e na pesca (academia gratuita), comendo somente o que pode ser preparado em alto mar. Saquei que essa é a essência da saúde.
Pois bom! Embalado nesses ensinamentos básicos que hoje já são reconhecidos até pela Lies University, decidi procurar a peixada perfeita aqui em João Pessoa.
Quantas decepções! Absolutamente nenhuma das casas de pasto daqui tem a menor ideia de como preparar uma peixada escabeche. Tantos erros crassos, como acrescentar óleo de coco e dendê. Pasmem… cometem o pecado mortal de fazer peixada usando filé de peixe. Portanto decidi eu mesmo fazer a verdadeira peixada. Consultando minha “personal food”, Carolina Pires, cheguei à perfeição. Numa panela grande coloquei tomates, cebolas, pimentões, coentro, alho, azeite 0,2 de acidez e muita água. Deixei ferver por uns 15 minutos e em seguida coloquei postas e a cabeça de uma bela cioba comprada em Zé do Peixe.
Como diria Dra. Renata, madrinha de Rafinha, não ficou boa não, estava “se amostrando”. Liguei dando a excelente noticia para minha filha, que orientara o trabalho. Ela então me perguntou quanto eu gastara para fazer o melhor prato do mundo. Fiz as contas e disse o valor. Do lado de lá da linha ela deu berro: “- Paiiiiiii! Você gastou 580 reais para fazer UMA peixada?”.
Eu esquecera de dizer que nos custos de elaboração incluíra a panela, uma garrafa de vinho branco seco que caiu muito bem acompanhando a peixada e mais umas fatias de queijo Manchego que comi enquanto esperava o prato ficar pronto. Hoje em dia minha peixada custa 50 reais.
As vezes a felicidade tem preço.