Quando eu era uma criança pequena lá em Borborema, subi algumas vezes pela escada de ferro que dava acesso ao teto, em forma de cone, de um silo existente no final da rua que tinha início na margem da linha do trem, antes chamada de Avenida Amazonas e hoje, Barôncio de Lucena. A partir dali, se iniciava a Rua do Silo. Um pequeno caminho, ligava o terreiro do silo ao horto dos eucaliptos que oferecia encanto e perfume aos arredores da igreja de Nossa Senhora do Carmo. Nunca procurei saber a origem daquele depósito de cereais e acho que, na cidade, ninguém conhece a sua história. O silo continua lá, imponente, testemunha daquilo que vou contar.
O presidente Solon de Lucena, um dos maiores gestores da Parahyba na primeira República, contratou no ano de 1921, o engenheiro americano H. Frank Machner para a construção de dois depósitos de cereais, a serem erigidos nas zonas secas do estado. Escolheu Arara e Catolé do Rocha para as primeiras unidades. Em mensagem à Assembleia, um ano depois, dizia: ”Feito para modelo e estímulo à curiosidade dos nossos agricultores, o silo construído em Arara mostrou às populações d’aquelle povoado e arredores como é possível conservar o milho e outros cereaes, a salvo das pragas que os atacam, ficando assim resolvido praticamente o problema da conservação dos mesmos e, se houver um pouco de inciativa individual regularizada, de vez, a valorização d’aquelles gêneros de primeira necessidade, no desequilibro criado pelas demasias intempestivas da oferta e da procura. Com capacidade para cinquenta toneladas foram nelle guardadas, por espaço de 6 mezes, 1.700 cuias de milho havendo sido encontradas, no fim desse tempo, em perfeito estado de conservação.”(grafia da época)
Dois anos depois, o Presidente vangloriava-se da sua iniciativa, vez que, muitos proprietários, seguiram o exemplo do governo e mandaram construir outros depósitos à semelhança dos projetados pelo engenheiro americano.
Foi o que fez o major Barôncio de Lucena, nas suas terras da Vila de Borborema. Mandou construir o silo na parte mais elevada da Vila, em cima de uma lajedo, escavado em apenas seis centímetros para sua fundação. O silo tem dois compartimentos, separados por placa de concreto armado. O major inovou no seu modelo e colocou duas válvulas de descarga, permitindo que o silo fosse sendo esvaziado aos poucos, sem expor os cereais ao perigo com a abertura das portas de enchimento. O empreendimento custou oito contos de reis ( 8:000$000) e o Major pagou 40 dias de serviço aos pedreiros, 600 dias aos trabalhadores, além de 75 dias ao administrador da obra. A capacidade do silo era de seis mil e setecentas cuias de cereais. O administrador dessa obra, feita sob as vistas do Major Barôncio, foi o sr. Severino Guilherme de Figueiredo, residente em Timbauba( PE).
A ideia dos silos foi do Presidente Solon de Lucena mas o presidente João Suassuna, já eleito, avisou que pretendia fazer algumas alterações no modelo em voga. Pretendia o novo governante da Parahyba, a partir de 1925, mandar alterar o teto dos silos. Ao invés do seu formato em cone ou pirâmide, passaria a ter um teto em formato de funil, possibilitando o enchimento, por gravidade e, de forma mais rápida. Sendo proprietário de uma dessas unidades em Taperoá, Suassuna pretendia oferecer uma ajuda do Estado a quem desejasse os silos em suas propriedades. O Estado construiria e, no final, receberia a parte que competiria ao proprietário. Mandaria vir dos Estados Unidos, pelo menos, duas formas metálicas para facilitar o trabalho. Não tenho informação se esse propósito foi executado.
Em Pernambuco foi disseminado outro modelo de silo que chegou à Parahyba através de Princesa. Era o silo de ferro galvanizado. Um comerciante local, de nome Nebrídio Granja possuía uma infinidade desses silos e passou a ser um verdadeiro monopolista do comercio de cereais, em qualquer época do ano, pois o silagem lhe permitia enfrentar as oscilações de preços com a garantia de lucro certo. Uma fábrica desses depósitos de ferro foi instalada em Princesa pelo sr.Inocêncio Nobrega que, na produção dos silos empregava de seis a oito operários. Quem me leu até aqui, há de se perguntar onde encontrei esses detalhes que acabo de expor. Vou dizer: um jornalista nascido em Martins-RN, visitou a Parahyba em 1924 e registrou em um livro suas impressões sobre o que viu nas cidades por onde passou. Fez o percurso de trem e onde tinha estação ele parou, conversou e anotou. Joaquim Ignácio Carvalho chegou ao senado da República.
Na nova república ou na novíssima, não lembro de nenhum governante que tivesse a preocupação de proteger a produção agrícola dos agricultores. Só Tarcisio Burity, no seu segundo período. Ainda hoje, quem andar pelo sertão e curimataú encontrará nas salas dos agricultores um silo metálico distribuído pelo seu governo. Mas essa é outra história.