A mentira e o mentiroso
Meu colega escritor Ariano Suassuna e eu sempre tivemos uma atração muito especial por doidos e mentirosos.
Vejam só como a mentira está no nosso dia a dia. Vocês acreditam que nós, humanos, viemos do macaco, não é? Mentira. Na verdade, nós temos um ancestral comum que viveu na África há mais de 6 milhões de anos. Temos 90% de compatibilidade de genes com os macacos, mas não evoluímos deles, taok? Podem ler a teoria da evolução de frente pra trás e de baixo pra cima que não irão encontrar uma linha afirmando o contrário.
Outra mentira cabeluda é a de que a palavra saudade é intraduzível, que só existe no português. Basta ver no espanhol as palavras soledad e añoranza ou mesmo no inglês a palavra miss.
Morro de rir quando os entendidos em futebol afirmam que o esporte foi inventado pelos ingleses (que me perdoe o colega escritor Mario Prata) e numa patriotada ridícula sustentam que Leônidas da Silva criou o gol de bicicleta. Na verdade, os ingleses inventaram as regras do jogo, definiram as medidas do campo e até mesmo o tempo de duração de uma partida. Porém na Grécia já se jogava algo parecido ao futebol, que foi aperfeiçoado pelos romanos, esses os responsáveis por levarem à Inglaterra o harpastum, quando invadiram a ilha. Quanto à bicicleta, quem primeiro chutou daquela maneira foi o chileno Ramón Unzaga em 1914. Só em 1930 0 “Diamante Negro” imitaria a jogada Eu colecionei mais cinquenta exemplos dessas mentiras que todos aceitamos, mas preciso ir adiante. No trato com mentirosos descobri que toda história pode ter duas versões, sendo uma delas verdadeira e a outra mais divertida. Descobri também que os homens mentem muito mais que as mulheres. Os homens são tão mentirosos que Adão deve ter comido a maçã e colocou a culpa em Eva. E começam a mentir muito cedo. Eu lembro de um pirralho, filho de nossos vizinhos, que um dia reclamou da mãe que os amiguinhos da escola estavam chamando-o de mentiroso. A mãe puxou suas orelhas e rebateu: – Marcelinho, deixa de coisa, você nunca sequer foi à escola”
Há quem diga que 90% dos homens são infiéis, enquanto os 10% restantes são mentirosos. Na verdade, percentuais servem para ancorar outra tese minha; quando alguém quer mentir inventa uma pesquisa e chuta umas estatísticas. Isso dá tanta credibilidade quanto dizer que viu tal fato na internet.
Termino informando que a Lies University realizou um profundo estudo sobre o tema e descobriu que para cada mentira contada há necessidade da criação de outras sete mentiras periféricas para sustentar a mentira mãe.
É mentira, Terta?