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A melhor maneira de começar o dia (Marcos Pires

A melhor maneira de começar o dia

Marcos Pires

Os pabulosos dirão que a melhor maneira de começar o dia é fazendo sexo. Isso é coisa de cinema. O casal acorda e sem escovar os dentes, sem tirar as remelas e o mingau das almas começa uma conversinha de pé de orelha e logo emenda na tentativa de fazer mais um filho, se é que vocês entendem minha sutileza.

Talvez porque eu esteja caminhando para os 80 anos ou talvez por morar sozinho, minha maneira de começar o dia não inclui sexo. Acordo às 3 da manhã e depois de algumas leituras me encontro com outros velhos, alguns deles com o juízo apertado e fazemos uma deliciosa caminhada, por sinal bem forte (9 km em pouco mais de uma hora) onde conversamos a valer e rimos um bocado. Ao final comemos algumas frutas e, trocando de turma, vou à padaria para o café da manhã, porque como todo mundo sabe, quem mora só não tem o que comer em casa.

No sistema de cada um pagar seu consumo, pessoas dos mais diferentes segmentos reúnem-se numa permanente discussão, porque ali se fala principalmente do que não se deveria; politica e a vida alheia. Desculpem, não se fala; grita-se. Aos berros é comum ver o empresário aquático Francisco Carlos tentar convencer o meurastêmico (é assim mesmo) a investir na bolsa de valores. Em resposta o careca invariavelmente o manda tomar…vocês sabem, né? Como ambos são bolsonaristas roxos, há uma plêiade de “comunistas” que ousam discutir com eles a política econômica. Nesses momentos os decibéis aumentam exponencialmente.

Há de um tudo; desde o marido que sempre pergunta à esposa se ela acha que ele vai ter vontade de ir à padaria no dia seguinte até o medidor de pagamentos públicos. É assim; quando alguns frequentadores que comem pão com mortaNdela (pronuncia deles) passam a comer sanduiche de queijo do reino é sinal seguro de que o governo pagou os salários.

Se houvesse espaço aqui eu contaria umas 50 histórias da padaria, como por exemplo as panelas de “iguarias” que o eólico Dr. Z. leva para lá. No último sábado o Advogado D. recusou-se a comer a tal iguaria argumentando que havia deixado em casa a sua dentadura de mastigar merda, enquanto o iceman regalava-se com o que chamou de “Queue de boeuf au couscous”, sofisticando uma rabada com cuscuz traduzida para o francês.

Taí, nem deu para falar do jogo das crateras! Desculpa, Paulinho.