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A MÁGICA DO PALETÓ (RAMALHO LEITE)

A MÁGICA DO PALETÓ

RAMALHO LEITE
Passei muitos anos da minha vida embalado no paletó e enforcado na gravata. Hoje, dificilmente, vou a um evento que me exija essa indumentária. Mas o trajo exerce sobre as pessoas uma influência incomum. Quando costumava comprar pão, nunca entrei na fila da padaria estando empaletozado. O balconista, de longe, cuidava de me atender com prioridade. Eu penava quando deixava o paletó em casa.
Um governador da Paraíba fazia questão de só conceder audiência aos que usassem o terno tradicional. Talvez tenha sido no seu governo que Ariano Suassuna foi barrado por não usar a vestimenta. Pudera, rebateu com bom humor o filho de João Suassuna, nascido no Palácio da Redenção:
– A ultima vez que entrei aqui foi totalmente nú…
Na Assembléia, quem pretendeu quebrar o protocolo e abandonar o “devidamente trajado” provocou uma verdadeira revolução regimental. A façanha foi protagonizada pelo então deputado Antonio de Pádua de Carvalho. Entusiasmado com o estilo janista de se vestir, pretendeu introduzi-lo no respeitável plenário dos anos sessenta. O uso do pijânio não durou uma semana.
Em Bananeiras, um vereador meu correligionário era herdeiro de todos os paletós que eu arquivava do uso diário. De repente, aderiu a Afrânio Bezerra, meu adversário. Meu pai externou ao também vereador Agapito Teixeira sua decepção com o pupilo desgarrado e revelou: recebia de Severino até os paletós! Quero ver os paletós de Afrânio caberem nele. E Agápito, bonachão:
– Tem nada não Arlindo! Todo político não calça quarenta? Se o sapato dá em todos, o mesmo deve acontecer com o paletó…
Certa feita precisei de um paletó com urgência. O fabricado em série ainda não era fácil de achar. Tendo roubado a moça para casar, adaptaram às pressas uma jajaba de meu pai para que eu subisse ao altar. Dizem que casar com roupa alheia dá sorte. Só pode ser verdade, pois já passei dos sessenta anos de casado.
No interior, as festas de clube não permitiam a entrada sem o terno. Meu pai era vereador e não abandonava o surrado paletó nas sessões da Câmara. Nas noitadas do Bananeiras Clube socorria os estudantes da Escola Agrícola Vidal de Negreiros emprestando a roupa da festa. Um estudante entrava e passava o paletó pela janela para o seguinte. Cearenses, pernambucanos, riograndenses e muitos conterrâneos que estudaram em Bananeiras nos anos sessenta, ou vestiam o paleto do velho Arlindo ou ficavam sem dançar nas festas organizadas pelo professor Vicente Nóbrega.
Ao que parece o paletó também ajuda a melhorar as finanças de quem o veste. Waldir dos Santos Lima costumava avisar:
-Quando me virem bem alinhado, de paletó novo, é porque estou liso… (