Estávamos nos Jardins de Academos da Academia Paraibana de Letras, onde se reúnem agentes das Letras, das Artes e também da História. Ao meu lado José Mario Branco, quando Sales pôs a questão o que seria mais importante para a História. O que, de repente, o acadêmico historiador José Octávio de Arruda Mello enfatizou: “O importante é a cidade”. Logo , pensei em Pilar e também em Itabaiana. Eles riram, mas, a cidade vivida durante nossas infâncias e adolescências se manifesta bem marcante nas nossas vidas, mesmo quando percebemos que a História, em memória, em qualquer sentido ou em qualquer forma, sempre nos dá grandes lições. E que essas cidades, onde nascemos e passamos algum tempo, geralmente são pequenas; e quando grandes, a meninada ou a garotada brinca e circula apenas no bairro onde residem.
Contudo, concorde-se que a História acontece mais na cidade do que nos campos, mesmo quando ocorre algum histórico movimento social que reagrupe campesinos, como foi o caso de Mao Tse Tung, numa China de uma história governada por dinastias, desde o século XIII a.C., que liderou a Grande Marcha do campo à cidade. Por aqui, sucedeu, no México, com a liderança de Zapata, e, nosso Nordeste, dando saltos na História, em menores proporções, as reivindicativas Ligas Camponesas, bem ativas nas regiões interioranas de Pernambuco e da Paraíba, como na nossa próxima Sapé. Foram procuradas, em 1964, como grande ameaça, mas, nos seus casebres apenas encontraram foices e enxadas. Contudo, sempre esses movimentos têm orientações saídas da cidade. A civilização não se desloca das cidades, onde o poder, sem exceção, se estabelece, sobretudo quando é conquistado.
Sem a cidade, a História tenta escapar do nosso entendimento, como sempre tivesse constantes manias urbanas. Quando se conquista a cidade, conquista-se também o campo… Sem muitas alterações, o campo conserva mais os valores e os costumes do que o meio urbano. Talvez por isso, que costumam dizer que as pessoas do campo são melhores do que a gente da cidade, chegando a se proverbiar que Deus teria feito o campo, e o homem a cidade. O mal para os campesinos é a distância da cidade, sempre do outro lado, aonde todas as coisas afluem, sobretudo o que se produz no campo, menos a História… Como a cidade o desconhecesse, Virgílio, na Geórgicas II, sutilmente fala a curiosidade do desejo: – Oh, ubi campi ? (Oh, onde estão os campos?).
Nas vezes em que vivi fora da cidade, tive sensações de liberdade, num mirante livre, sem as interrupções dos prédios, das torres e das catedrais. Como não lhes importam as fórmulas políticas, as suas estruturas e os seus programas, aos do campo nada há do que se queixar, desde que a história não modifique a felicidade que existe por lá. Em certo sentido, vive bem mais junto à natureza quem a ama, simples, sem os colares de ouro e o conforto da riqueza. Observem-se os ricos proprietários, que constroem duas casas: uma no campo e outra na cidade.
Resumindo, a História só tem sentido, senão, como o homem a faz, a título de um lugar permanente e também provisório, porque ela própria é dinâmica, mas assim pertencendo mais à cidade do que ao campo. Tudo isso leva a crer que mais importante para a História é a cidade.
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