Na mitologia grega, a Hidra de Lerna aparece como um monstro com corpo de dragão e várias cabeças de serpente. Quando uma de suas cabeças era cortada, outras apareciam em seu lugar. Essa lenda pode ser muito bem transportada para os tempos atuais no Brasil. O fascismo se transformou numa Hidra de Lerna moderna. Sua cabeça principal foi eliminada do campo político contemporâneo. No entanto, as cabeças das serpentes continuam vivas, em perigoso movimento.
A crise institucional que experimentamos nos anos recentes ganhou aspecto mitológico. As práticas fascistas são naturalizadas, porque estão presentes no psiquismo de muitos brasileiros que se alinham ideologicamente com a extrema direita. É inegável que ainda persiste na nossa cultura política uma tradição autoritária. Por isso que a História nacional registra tantas rupturas democráticas. As cabeças restantes da Hidra de Lerna estão em plena atividade.
Até porque o fascismo não se alimenta de juízos críticos, o que favorece manifestações irracionais em defesa das suas ideias e seus conceitos políticos. Nutre ódio a quem, de alguma forma, possa abalar as suas crenças, pautando seu comportamento na ignorância e na criação de inimigos imaginários. Estimula a submissão coletiva aos que se apresentam como lideranças do movimento, se contrapondo à liberdade de raciocínio próprio e do acesso aos saberes.
O fanatismo e o fundamentalismo constituem-se elementos necessários para produzir a cegueira mental, fazendo com que seus seguidores se fechem em bolhas ideológicas sedimentadas pela alienação. A religião foi transformada em mercadoria política. A discórdia é semeada, cumprindo o objetivo de manter uma polarização que lhe interessa. Como ecoar o grito de paz com armas nas mãos?
Não podemos baixar a guarda. Essa bactéria tem que ser eliminada definitivamente. Sabemos que é uma tarefa difícil. As cabeças da Hidra de Lerna que permanecem se movimentando, não podem ser ignoradas. O povo precisa voltar a ser povo. Com espírito unitário e energizado pelo verdadeiro patriotismo. A omissão e a covardia não podem prosperar. As forças democráticas não devem ficar dominadas pelo medo que o fascismo tenta impor. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Construamos uma contraposição dialética a esse momento movido pela irracionalidade.