A gota serena da taxa Selic
Marcos Pires
Se o leitor tem certeza que sabe do que se trata, então até a próxima semana. Se tem dúvidas ou não tem a menor ideia, siga o caminho que trilhei.
Primeiramente fui saber como os bancos ganham dinheiro. Ô Pedro Bó, isso todo mundo sabe. Eles remuneram os depositantes com juros de, digamos, 13% ao ano. E emprestam essa grana a…60% ao ano. Segundo meu colega A. V., essa máquina de fazer dinheiro funciona assim; eles consideram o dinheiro dos correntistas como passivo, que é a bufunfa usada pelos bancos para fazer empréstimos, cobrir saques e transferências. Na outra ponta está o ativo, resultado da grana que entra em consequência do recebimento dos empréstimos feitos anteriormente. Além disso os bancos têm outros ativos, principalmente os títulos públicos que cada um deles compra pra valer. O segredo é manter o ativo e o passivo pelo menos iguais. Só que diariamente entra e sai tanta grana que ao final do dia um grande banco pode perfeitamente estar com o ativo menor do que o passivo. Isso é comum demais. O que acontece então? Esse banco que fechou no “prejuízo” pede a outro banco, que está no azul, grana suficiente para empatar suas contas, dando títulos da dívida pública como garantia. Porém atenção, perquiridores leitores, essas transações são feitas através do Sistema Especial de Liquidação e Custódia do Banco Central. Entenderam a origem da sigla Selic?
Pois é. Mas eu ainda não cheguei na taxa Selic. Agora vai. Ao fim do dia, depois que todos bancos fazem seus toma lá dá cá, o Banco Central apura a média de juros que foi cobrada por cada banco nas transações com seus pares. O exemplo do colega A. V. é simples. Se o BC apurou que a taxa média de juros diários cobrada pelos bancos uns dos outros é de, digamos 0,051%, ele simplesmente multiplica esse percentual pelo número de dias uteis do ano e assim chega ao percentual de 13.7% ao ano.
Pronto, essa é a famosa e temida taxa Selic. Só que há um artificio que eu ainda não contei. Ao contrário do que se possa pensar, por mais que os bancos credores decidam suas taxas de juros, o BC tem o poder de concorrer com eles, oferecendo aos bancos que precisam, uma grana mais barata do que aquela dos bancos privados, a depender se ele, BC, quer que a taxa Selic suba ou desça.
Por isso é que a taxa Selic será sempre fixada pelo Banco Central.