Meu amigo Luciano B. saía de uma boate no Recife enfrentando uma chuva intensa. Estava a bordo de uma loura espetacular e queria “se amostrar”. Logo que seu potente carro começou a percorrer o caminho que os levaria à suíte presidencial do Sheraton, um outro veículo que vinha atrás passou a dar insistentes sinais de luz e buzinar freneticamente. O Don Juan paraibano quis mostrar sua macheza e baixou o vidro, estendeu o braço para fora e mostrou aquele dedo que significa vocês sabem o que. O outro veículo continuou a buzinar e a dar luz alta e segundos depois o carro do meu amigo caiu num enorme buraco, sem condições de continuar andando. A chuva aumentara bastante. Ele desceu do automóvel e foi ver o que poderia ser feito. De repente dois homens saíram do carro que vinha sinalizando e buzinando atrás do seu veículo, para quem ele havia feito aquele gesto horroroso. O mais velho deles disse ao romântico paraibano: “- Amigo, nós estávamos chamando sua atenção para avisar sobre esse buraco. Mas fique tranquilo que eu e meu filho vamos ajudar a tirar seu carro daí”. E realmente conseguiram levantar o automóvel, salvando a noite de amor do presunçoso.
Só muito recentemente eu aprendi a força da gentileza. Semana passada um motoboy bateu no retrovisor do meu carro enquanto eu esperava o sinal abrir. Fosse noutros tempos… . Era meio dia, calor de 30 graus, porém o ar condicionado do meu carro nem de longe se comparava ao que aquele rapaz estava sentindo, apressado em fazer mais uma entrega que iria talvez completar o leite do filho enquanto que eu estava saindo do pilates e indo nadar no mar. Baixei o vidro e disse a ele que ficasse tranquilo. O sinal abriu e eu arranquei. Pois o motoboy me seguiu, emparelhou e postou as mãos em agradecimento. Só não gostei porque soltou o guidão.
Dar a vez numa fila de supermercado, parar para deixar algum pedestre atravessar a rua, até mesmo esperar que um veículo manobre à minha frente tem sido atitudes gratificantes. Me fazem mais feliz. É gostoso ver o espanto de muitos pelo gesto inusitado e em seguida a gratidão de todos pela gentileza.
Tudo isso para dizer que conheci um maluco nos tempos que morei no Rio. Nós o chamávamos de profeta Gentiliza. Na época, confesso, achava-o bobo, quase ridículo, fazendo inscrições num viaduto carioca. Lembro de uma: “Gentileza gera gentileza! Sou maluco para te amar e louco para te salvar. Não usem problemas; não usem pobreza; usem amor e gentileza”. Hoje em dia estou convicto que ele estava coberto de razão. E pratico o ensinamento sempre que posso, na certeza de que gentileza gera gentileza.