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O fim do carro popular: entenda por que ele vai morrer em breve

O fim do carro popular: entenda por que ele vai morrer em breve

Depois de 30 anos, três tendências empurram os modelos mais baratos do mercado brasileiro para os livros de história

fiat uno drive vermelho de frente
Com as vendas em queda e comprado principalmente por frotistas, o Fiat Uno pode dar adeus este ano (Foto: Fiat | Divulgação)

Fevereiro de 1993. Quem imaginaria que uma simples canetada nesse mês teria o poder de moldar todo o mercado automobilístico nas décadas seguintes. Foi a data em que se assinou o protocolo do carro popular, que baixou o IPI a 0,1% para modelos com motor 1.0.

Assim, seu preço despencou e as marcas inundaram as lojas com veículos despojados de equipamentos, que se tornaram objeto de desejo dos sem-carro. O segmento de entrada explodiu: sairia de 15,5% das vendas em 1992 para 69,8% em 2001.

Fevereiro de 2021. Trinta anos depois, esses modelos perderam a aura de desejável. Ao contrário, os consumidores torcem o nariz para um carro pelado de equipamentos e as concessionárias evitam deixá-lo na loja.

 

Hoje o futuro desse segmento está em perigo, ameaçado por três tendências que decretarão o fim do automóvel popular. E cada uma delas isoladamente já seria forte suficiente para causar sua morte.

1. Consumidor não quer mais comprar

As estatísticas são reveladoras: mostram que o carro de entrada como conhecemos hoje tende a desaparecer em breve. Em 2001, os automóveis com motor de 1.000 cm³ atingiram seu auge, com 69,8% das vendas. Depois foram caindo até chegar a 33,1% em 2016. Ou seja, mais da metade do segmento derreteu.

A partir daí, porém, ele voltou a crescer. Mas nada tem a ver com o carro de entrada. Ao contrário. Foi a tecnologia do motor 1.0 turbinado que passou a equipar cada vez mais modelos, quase sempre maiores e mais equipados.

Hoje se encaixam nessa categoria veículos como VW T-Cross (a partir de R$ 99.000) ou Chevrolet Tracker (R$ 92.850). Fica claro, assim, que esse parâmetro de comparação já não serve mais.

Por sorte, a Fenabrave divulga o ranking de vendas dos chamados “veículos de entrada”. Analisando os números desde 2003, temos um retrato mais apurado do quanto os carros mais baratos do Brasil estão sumindo do mapa. O gráfico abaixo já diz tudo: passaram de 49,1% em 2003 para 12,7% em 2020. Ou seja, 3/4 do segmento desapareceram. O que nos leva à segunda tendência do mercado.

vendas dos carros populares estão caindo

2. Marcas não querem mais vender

Não é segredo para ninguém que os fabricantes decidiram sair dos segmentos que têm pouca margem de lucro, que é o caso dos veículos pequenos e com pouco conteúdo. Trata-se de um movimento mundial.

A Ford fechou suas fábricas no Brasil por ordem da matriz, que em 2018 resolveu deixar de investir nos automóveis de passeio e centrar esforços em SUVs e picapes, que oferecem margens mais gordas.

Carlos Tavares, o novo presidente da recém-criada Stellantis (fusão entre FCA e PSA), já deixou claro que não vai sacrificar suas margens apenas para ganhar mercado.

No Brasil, a Volkswagen abriu mão de perseguir a liderança para aumentar a lucratividade de seus produtos, apostando no dinheiro fácil proporcionado pelos SUVs.

Por Zeca Chaves  /vavadaluz