Fim do Ford Focus é a pá de cal nos hatches médio–
Por que, afinal, esse segmento declinou tão rapidamente?
Algumas notícias tristes, quando chegam, nos deixam chocados mesmo quando eram esperadas. No momento em que cai a ficha, não há como não sentir o impacto. Na segunda-feira (1/10), foi confirmado que o Ford Focus deixará de ser produzido na Argentina, em suas versões hatch e sedã, após quase duas décadas. O sedã nunca conseguiu fazer frente à dupla Toyota Corolla e Honda Civic, mas o hatch era um dos ícones do segmento, ao lado do VW Golf. Fiquei triste por ser um fã desses carros. Na juventude, quando só tinha dinheiro para carros pequenos, sonhava em ter um hatch médio como o Audi A3 ou o Alfa Romeo 145. Só consegui realizar esse sonho recentemente, já no declínio da categoria. Até aderir a um SUV, como tanta gente vem fazendo.
Lamentações à parte, a atitude da Ford é plenamente justificável, e se soma à de outras marcas que tiraram de linha seus hatches médios. A lista recente inclui Fiat Bravo, Hyundai i30 e Citroën C4, só para citar os mais conhecidos. Neste ano, a marca do oval azul emplacou apenas 2.455 unidades do Ford Focus hatch até setembro, média de 273 carros por mês. Ou menos de um por cada concessionária Ford, que são mais de 350 no país. Embora o volume seja baixo, o Focus ainda é o vice- líder do segmento. Só perde para o Chevrolet Cruze (4.105). Abaixo do Focus estão o emblemático VW Golf (2.277), o Peugeot 308 (399) e o Volvo V40 (361), além do híbrido Lexus CT 200h (156).
Como parâmetro de comparação, veja a lista dos cinco hatches médios mais vendidos em 2013: Astra (18.990), Golf (15.218), Stilo (14.921), Focus (9.890) e A3 (7.672). Lá se vão 15 anos, e a soma de todos os hatches médios vendidos em 2018 não chegará perto do que vendeu o terceiro colocado em 2003. Para complicar o cenário, o argentino Peugeot 308 também está com os dias contados, e dificilmente a VW continuará produzindo o Golf no Paraná. Talvez passe a vir do México como o novo Jetta. Talvez nem isso.
Vale lembrar que a crise dos hatches médios não se limita ao Brasil. Também nos EUA a Ford decidiu tirar de linha o Focus. Só a Europa ainda consome volumes consideráveis desses modelos, VW Golf puxando a fila. Mas mesmo em seu continente de origem, eles começam a perder espaço para os SUVs e até para hatches compactos mais encorpados, como o VW Polo.
O que ameaçou o Ford Focus?
O que explica esse declínio do interesse pelos hatches médios, afinal? Crossovers e SUVs são a resposta. Até uma década atrás, os hatches maiores eram a opção natural para quem quisesse um carro de porte intermediário, que oferecesse mais espaço, mas mantivesse as boas características de dirigibilidade e um aspecto mais jovial que os sedãs. SUVs eram vistos apenas como modelos para uso misto, mais pesados e beberrões. A evolução da eletrônica embarcada minimizou os problemas de segurança e dirigibilidade dos SUVs. Motores mais modernos anularam em parte os problemas de consumo e desempenho. E o design de crossovers monobloco favoreceu a jovialidade do estilo desses modelos, antes quadradões, às vezes derivados de picapes (carroceria sobre chassi).
Com o tempo, SUVS e crossovers, que nasceram nos segmentos de maior porte, foram ganhando configurações mais compactas, até chagar ao porte e faixa de preço dos hatches médios. Com vantagens de visibilidade, robustez, versatilidade e uma posição mais cômoda ao volante. Foi o tiro de misericórdia. Aos hatches médios como o Ford Focus , restaram apenas os clientes que realmente procuram certa esportividade e uma posição ao volante mais próxima ao solo. Ou seja, a onda SUV relegou esses modelos a um nicho, exceto na Europa. Por enquanto…
Fonte: Carros – iG /vavadaluz