Arco-Íris faz as pazes
Ao longe, já avistamos Arco-Íris e os seus amigos no fundo do oceano: eles cintilam na água com
mil reflexos multicolores.
Só há um peixinho com umas riscas que não tem escamas tão brilhantes como os outros.
Mas isso não o impede de fazer parte do grupo.
Felizes, os peixes vão e vêm, levados pela corrente.
Aqui, têm tudo de que precisam: milhares de
bichinhos minúsculos e de bocadinhos de algas flutuam no
mar, tão pequeninos que mal se veem.
Quando têm fome, Arco-Íris e os seus amigos só
precisam de abrir a boca, deslizar na água, depois engolir…
e ficam assim com a barriga cheia.
Um autêntico paraíso.
Uma bonita baleia azul, que vive pacificamente ali
perto, também se regala a comer, tal como eles.
Ela gosta deste lugar onde a comida é tão abundante.
Mas gosta, sobretudo, de ter estes belos peixinhos
perto de si.
Podia passar horas e horas a admirar os belos pontinhos de luz que brilham no fundo do oceano!
Uma bela manhã, Zigzag apanha a baleia a observá-los.
— Por que razão tem de olhar para nós desta maneira?
— pergunta a si próprio o peixe gordinho com as barbatanas
em forma de dente.
Está muito maldisposto hoje.
— Olhem como ela nos espia! — diz aos outros. —
Pergunto a mim próprio o que estará ela a tramar!
A baleia, que não suspeita de nada, mergulha e volta a
mergulhar ali perto.
Mas agora os peixes já estão desconfiados.
— Viram aquela boca enorme? — diz um deles. — Engole toneladas de comida. Daqui a pouco
tempo, não nos fica nada para comer.
Arco-Íris também está preocupado. Até ao momento presente, nunca tiveram fome, mas quem
sabe? A baleia está tão gorda… E depois o Zigzag tem razão: ela tem mesmo um ar um pouco estranho…
Um belo dia, a baleia ouve o que eles dizem.
Primeiro, fica muito desiludida e, depois, muito
zangada.
— Vou dar-lhes uma boa lição! — diz para si própria.
— Vão ver com quem se estão a meter!
E ei-la a mergulhar por cima deles como uma
tempestade a rebentar. Com um golpe de cauda, faz agitar
as águas e atira os peixinhos para todos os lados.
Assustados, Arco-Íris e os seus amigos fogem para
uma gruta que lhes serve de refúgio. Mas a baleia não os
larga.
Sem dó nem piedade, vai atrás deles e persegue-os
até à falésia. E é por pouco que eles conseguem chegar ao seu esconderijo nos buracos da rocha.
Mas, do lado de fora, a baleia passa e volta a passar, observando-os com os seus olhos negros.
— O que é que eu vos disse? — fala baixinho o Zigzag — Este monstro é perigoso. É preciso ter
cautela!
No entanto, tal como uma tempestade, a baleia acaba por se acalmar. Depois de uma última
ronda, afasta-se por fim, e desaparece atrás dos corais. Um a um, os peixinhos voltam a sair, muito
aflitos e cheios de fome. Mas a fúria da baleia deixou o seu rasto. As pancadas furiosas com a cauda
não afugentaram só os peixes: toda a comida desapareceu também!
— Antes de tudo isto acontecer, lembram-se, não eramos todos felizes? — pergunta, então,
Arco-Íris aos amigos. — Agora ficamos sem nada. Toda a gente fica infeliz quando há guerras.
Devemos fazer as pazes!
Os peixes concordam. Mas têm muito medo da baleia
para tentar ir ao seu encontro!
Então Arco-Íris toma uma decisão: vai sozinho.
Primeiro, a baleia olha para ele muito desconfiada.
— Temos de conversar! — propõe Arco-Íris. —
Ninguém ganha com a nossa guerra, bem pelo contrário.
Então a baleia explica por que razão ficou furiosa.
— Eu não
queria fazervos
mal algum!
— diz ela.
Arco-Íris baixa os olhos.
— E nós tínhamos medo que comesses tudo! Tu és
tão grande e, depois, estavas sempre a espiar-nos….
— Eu? Mas eu só queria admirar as vossas lindas
escamas! — exclamou a baleia.
Os dois desataram às gargalhadas.
— Na verdade, isto não faz sentido nenhum! —
exclamou o Arco-Íris. — Anda, vamos partir juntos à
procura de um novo lugar.
Arco-Íris vai ter logo com os seus amigos e conta-lhes o que se passou.
E já todos se perguntam como esta infeliz desavença pôde acontecer!
Então, seguido por todos, Arco-Íris e a baleia foram para outras águas… nadar em paz.
Marcus Pfister
Arc-en-ciel fait la paix
Éditions Nord-Sud, 2003
(Tradução e adaptação