Certa feita recebi aqui na Senzala o poeta e repentista João Paulo Sobrinho , filho natural de Ingá, mas precisamente do bairro da estação, e outros colegas de viola. Antes do almoço falávamos sobre os prejuízos que a seca trazia para nordestino, quando surgiu o mote :
“TODA CASA DE TAIPA ABANDONADA
TEM UM GRITO DE FOME DENTRO DELA”
e João Paulo sobrinho não deixou pra ninguém e disse:
–
É um quadro cruel e revoltante
Uma casa exposta ao abandono
Ninguém sabe noticia do seu dono
Que a seca tangeu para distante
Destruíram as fruteira da vazante
Arrancaram os mourões e a cancela
Resta um gato como fome na Janela
E um cachorro caído na calçada
“TODA CASA DE TAIPA ABANDONADA
TEM UM GRITO DE FOME DENTRO DELA”
–
Obrigado a fazer uma mudança
Junto os troços que pode e faz partida
Sem dinheiro, sem água e sem comida
Até o leite lhe falta pra criança
Do inverno perdeu a esperança
quer clamar, mas a voz prende na goela
Contra a seca cruel que atropela
O obrigando a deixar sua morada
“TODA CASA DE TAIPA ABANDONADA
TEM UM GRITO DE FOME DENTRO DELA”
–
Um burro velho deitado cochilando
Debaixo de um velho Juzeiro
E um urubu lá de cima de um faxeiro
Disfarçado pra ele sempre olhando
Chega o dono com a corda e sai puxando
O animal pra ver se aguenta a sela
Sua ultima viagem é mesmo aquela
Nunca mais vai voltar sua morada
“TODA CASA DE TAIPA ABANDONADA
TEM UM GRITO DE FOME DENTRO DELA”
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Uma vez eu passei o Cariri
Quando a seca estava devorando
Os animais em geral se acabando
E o povo fugindo, eu assisti
Foi horrível demais o que eu vi
O final deste assunto é uma tela
Para um filma macabro, uma novela
De uma gente que sofre desprezada
“TODA CASA DE TAIPA ABANDONADA
TEM UM GRITO DE FOME DENTRO DELA”
João Paulo Sobrinho
Faz sentido. Muito bom o mote.
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