Japão
Lá longe, muito longe, há uma pequena cidade com casas esculpidas na falésia.
Uma cidade efervescente e barulhenta.
No coração desta cidade, oprimido pela agitação geral, um vendedor ambulante de tintas, sabão, esponjas e vassouras, com cinquenta anos, lamenta-se: os negócios correm mal e a mulher fugiu com outro vendedor das redondezas.
Não aguentando mais uma vida sem sentido, o vendedor ambulante segue o caminho que serpenteia toda a falésia. Quer atirar-se de lá de cima…
Mas, quando chega mesmo ao cimo de tudo, cansado, ouve um sino de prata que toca uma melodia ímpar! De repente para, comovido pela música… E tudo nele muda: sente-se leve, tranquilo e o seu peito enche-se de uma alegria imensa. Esquece as inquietações e começa a sorrir. Depois, aproxima-se de uma árvore, onde, todas as noites, um homem sentado observa o mar alto.
― É seu esse sino que está lá no alto? ―
Sim.
― Mas que sorte tem! Pode emprestar-mo? ― pergunta o vendedor ambulante, admirado com a sua própria coragem.
― Impossível! ― diz o homem da falésia. ― Eu preciso mesmo desse sino!
― Ah ! se soubesse a minha vida!
E o homem da cidade fala com tanta emoção das suas desgraças que o outro acaba por ceder.
― Pronto, está bem! Eu empresto-lho, mas só por um dia.
― Só por um dia e ver-me-ei livre de todas as minhas angústias!
O coração do vendedor palpita de alegria e promete voltar no dia seguinte.
E sobe à árvore para retirar o sino.
De regresso a casa, que ficava longe de tudo, coloca o sino no seu jardim mas, em vez de regressar ao trabalho, ei-lo que se põe a dançar sem conseguir parar. Os vizinhos, os clientes perdidos, os pássaros de olhos arregalados e as vassouras, todos se aproximam e, contagiados pela alegria do vendedor ambulante, começam a dançar ao som do sino de prata.
E dançam, dançam sem parar.
E os dias vão passando: um, dois, três…
Lá mesmo no cimo de tudo, o homem da falésia espera pelo seu sino.
Está nervoso. Sem a sua música, não consegue ficar sentado debaixo da árvore, como faz todas as noites. Chama a mulher e pede-lhe para ir à cidade, a casa do infeliz vendedor ambulante, e exigir de volta o precioso sino da felicidade.
A mulher segue rapidamente o caminho que desce a falésia e dirige-se à casa do vendedor. Mas, ao ouvir a música do sino de prata, esquece-se de tudo e começa a dançar com o vendedor ambulante, os clientes, com toda a rua…
E dança, dança sem parar!
E o leitor, já alguma vez ouviu o seu sino da felicidade?
–
Muriel Bloch Les plus beaux contes de conteurs Paris, Syros Jeunesse, 1999
(Tradução e adaptação)
O Sino da felicidade deve tocar dentro de cada um de nós. Somos dádiva de Deus, por isso temos que está alegre.
Não é possível comentar.