Rodrigo Janot defendeu afastamento de Renan Calheiros do cargo e ministro Marco Aurélio reafirmou decisão nesse sentido; Senado ignorou a imposição

Após um intervalo de meia hora, o Supremo Tribunal Federal (STF) retomou a sessão de julgamento definitivo da decisão liminar concedida pelo ministro Marco Aurélio, que afastou do cargo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Até o momento, o único ministro que votou foi o relator da matéria, o próprio Marco Aurélio, que reafirmou sua decisão de afastar Renan.

A decisão liminar de Marco Aurélio foi proferida no início da noite de segunda-feira (5), mas o senador continua no cargo porque a Mesa Diretora da Casa se recusou a cumprir a decisão. Os senadores decidiram esperar decisão definitiva do plenário do STF.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, defendeu durante seu explanamento nesta quarta-feira (7) que réus “não podem ocupar nenhum dos cargos” na linha sucessória da Presidência da República.

“ É aceitar que uns poucos cidadãos podem escolher arbitrariamente quando e se se submeterão à Justiça” – Janot sobre decisão da Mesa Diretora do Senado

“Não é admissível que alguém na condição de acusado impeça o normal funcionamento dos órgãos máximos do País e contribuam para degradar a respeitabilidade das instituições. Que mensagem e que exemplo isso daria às nossas crianças? Um exemplo de que uma pessoa acusada de graves crimes contra a administração pública pode estar no comando desta nação”, disse o procurador-geral.

Janot também criticou o fato de Renan ter se recusado, “em dribles sucessivos”, a receber a notificação de um oficial de Justiça que esteve na residência oficial do Senado na segunda e na terça-feira.

O procurador-geral atacou a decisão da Mesa Diretora do Senado de não reconhecer a decisão do ministro Marco Aurélio. “Houve a recusa expressa de um dos Poderes da República em cumprir uma decisão legítima proferida pelo órgão judicial competente. Desafiar uma decisão judicial é como desafiar as noções fundamentais de um Estado Democrático de Direito. É aceitar que uns poucos cidadãos podem escolher arbitrariamente quando e se se submeterão à Justiça.”

Ministros

“ Tempos estranhos vivenciados nesta sofrida República” – Marco Aurélio Mello

O relator da ação e autor da polêmica decisão liminar, Marco Aurélio Mello, ironizou Renan ao iniciar sua fala. “Faço justiça que ele [Renan] não me chamou de juizeco”, disse o ministro em alusão à uma frase disparada por Renan sobre ação contra a Polícia Legislativa do Senado. “Tempos estranhos vivenciados nesta sofrida República”, disse.

O ministro voltou a defender o afastamento do peemedebista da presidência do Senado. 

O segundo ministro a analisar a questão foi o decano da Corte, Celso de Mello. O ministro defendeu que 

Julgamento

Dois ministros não participam do julgamento. O ministro Gilmar Mendes está em viagem oficial à Suécia e Luís Roberto Barroso está impedido de julgar a questão porque, antes de chegar ao Supremo, ele trabalhou com os advogados da Rede Sustentabilidade – autora da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) contra Renan. 

A ADPF da Rede sustenta que Renan deve ser afastado por ser réu (ou seja, responder a ação penal) e estar na linha sucessória da presidência da República, formada pelos presidentes do Senado, da Câmara dos Deputados e do STF. Na semana passada, Renan Calheiros se tornou réu pelo crime de peculato, razão pela qual a Rede pediu seu afastamento por medida cautelar, no que foi atendida por Marco Aurélio.

Antes do julgamento, a presidente do Supremo, Cármen Lúcia, se reuniu com vice-presidente do Senado, Jorge Vianna (PT-AC), e recebeu ligações de alguns parlamentares, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Todos pediram celeridade da Corte para resolver o impasse entre o STF e o Senado. Em uma reunião informal com colegas da Corte, a ministra disse que está preocupada com a situação e que é preciso pacificar os ânimos para não agravar o quadro.

O julgamento definitivo sobre o assunto ficou interrompido por um pedido de vista do ministro Dias Toffoli, com o placar em seis votos a favor do impedimento e nenhum contra.

Qualquer ministro do STF pode modificar o voto proferido anteriormente na ação, que hoje conta com maioria de votos pelo impedimento. 

*Com informações da Agência Brasil