O Nordeste brasileiro ganhou mais um inimigo no acesso a água potável: o mexilhão-dourado, molusco asiático do tamanho de uma moeda, que entope tubulações e invade máquinas de usinas hidrelétricas.
Há um ano e meio, moluscos de 5 cm têm se espalhado pelo rio São Francisco, onde estão as usinas de Sobradinho (BA) e Luiz Gonzaga (PE).
Pesquisadores estimam que na área de Sobradinho a população de mexilhão-dourado esteja em 40% do máximo de 200 mil indivíduos por metro quadrado –mais do que isso e ele para de se reproduzir por falta de alimento.
A menos de 50 km da usina, há dezenas de tubulações que levam água às cidades Juazeiro, Remanso e Casa Nova (BA), à pernambucana Petrolina e a sistemas de irrigação para agricultura.
As prefeituras informaram que o molusco ainda não afetou a rede, mas que nos últimos cinco meses foram reforçadas as vistorias para detecção do animal.
Um alerta emitido no final do ano passado por pesquisadores informava que “a presença destes organismos nestes locais é grave, pois afetará a captação de água”.
“É extremamente urgente que estas localidades comecem a ser monitoradas”, segundo o documento do Cbei (Centro de Bioengenharia de Espécies Invasoras de Hidrelétricas), que estuda a espécie desde que ela chegou ao Brasil, em 1998.
Em Porto Alegre, o abastecimento foi afetado pelo molusco em 2000, com entupimento em tubulações que captavam água na margem esquerda do lago Guaíba. A situação só foi normalizada após dois anos.
Com presença até então restrita a bacias do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, o mexilhão-dourado foi visto no São Francisco em 2015.
CBEI/Divulgação | ||
Um dos mexilhões-dourados encontrados em Sobradinho, no São Francisco |
O primeiro registro do pequeno molusco no Brasil se deu em 1998. Ele chegou à América do Sul em navios cargueiros vindos da Ásia, sua região de origem.
Já no São Francisco, os pesquisadores dizem que, provavelmente, foi trazido pelo “peixamento”, o deslocamento de peixes em tanques de um rio para o outro. “Essa é a hipótese mais provável”, disse o pesquisador Fabiano Silva, do Cbei.
Em Sobradinho, o mexilhão invadiu, entre o final de 2015 e o início deste ano, os adutores de turbinas das seis unidades geradoras de energia, suscitando paradas obrigatórias de dois dias a cada três meses para limpeza.
“Estamos aprendendo a conviver com o molusco, já que erradicá-lo, como temos visto em outros locais, é muito difícil”, diz o diretor de operações João Henrique de Araújo Franklin, da Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco).
Na usina de Itaipu (PR), em 2001, o molusco também causou entupimento de maquinário. O problema só foi amenizado em 2010, após a implantação de um programa de monitoramento.
TRANSPOSIÇÃO
Outro temor é com a transposição do rio São Francisco, pois o molusco foi visto também “em quantidade considerável” no eixo norte do canal, nas proximidades da cidade de Cabrobó (PE), a cerca de 100 km de Sobradinho.
O projeto prevê levar água a 12 milhões de pessoas em 390 municípios de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
Em nota, o Ministério da Integração Nacional diz monitorar flora e fauna locais.
“As equipes identificaram a presença de mexilhões-dourados no rio São Francisco e no canal de aproximação”, diz a nota, “mas os organismos não afetam ainda as estruturas do projeto nem a qualidade da água.”
ENTENDA
Mexilhão-dourado
Nome científico
Limnoperna fortunei
Origem
Bacia do rio Yang Tsé, China
O que é
Uma espécie aquática de molusco que compete por espaço e nutrientes com outros organismos nativos
Tamanho e população
Mede até 5 cm, mas com 0,5 cm já é capaz de se reproduzir, atingindo populações de até 200 mil mexilhões por m². Em um ano, eles podem se dispersar por um raio de até 240 km
Primeiros registros
Começou a se espalhar por volta da década de 1960 para o Japão, Taiwan e Hong Kong. Na América Latina, o primeiro registro se deu em 1991, na foz do rio Prata, na Argentina. No Brasil, ocorreu em 1998, nas bacias do Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul
Como chegou à América Latina
Pela água de lastro de navios mercantes, que é devolvida ao ambiente enquanto o navio é carregado
Como chegou ao Nordeste
Provavelmente o processo de levar peixes de um rio para o outro (“peixamento”) contribuiu para deslocar o molusco para o São Francisco –as larvas, invisíveis a olho nu, podem estar na mesma água.
Folha de São Paulo/VAVADALUZ
Lá vem mais uma coisa para atrapalhar essa transposição. Do jeito que vai, não vai sair nunca.
Desculpa de cego é não enxergar!
Esse molusco sempre existiu, só agora com a transposição que eles vão destruir tudo?
Ai ai ai…
come-se com farinha?
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