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Blog do Vavá da Luz

CLUBE DA HISTORIA EM : O Silêncio e a Tranquilidade

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 Chama-se ao Advento o tempo do silêncio. Apesar disso, muitos são os que o vivem enquanto tempo de barulho e de agitação. As pessoas precipitam-se para as lojas a fim de fazer as compras de Natal. E, no entanto, o silêncio é necessário para que o Menino possa vir até nós. Sem silêncio, não nos apercebemos da sua vinda, não o ouviremos bater à porta do nosso coração.

Em alemão, a noção de silêncio encontra-se ligada à de imobilidade. Para fazermos silêncio em nós, importa que paremos, que deixemos de correr de um lado para o outro, que deixemos de nos agitar e fiquemos sozinhos connosco. Só me encontrarei a mim próprio se me aquietar. Deixarei então de viver no exterior a minha agitação. E aperceber-me-ei dela dentro de mim. Só alcança o silêncio e a tranquilidade aquele que sabe resistir à sua própria agitação. A língua alemã associa igualmente, num único vocábulo [Stille, Stillen], a tranquilidade e a amamentação do recém-nascido.

Ao aleitar a criança que chora com fome, a mãe acalma-a. Da mesma forma, devo aquietar o choro interior da minha alma. Quando deixo de me agitar no exterior, o meu coração grita de fome e de insatisfação. Sente necessidade de alimento e, por isso, devo consagrar-me maternalmente a ele, para que se apazigúe. Ora, muitos são aqueles que têm medo de escutar o coração que grita de fome. Preferem ignorá-lo, agitando-se sem cessar, sempre em rodopio. Mas o coração continua a gritar, não querendo que o ignorem, pois sente a necessidade de atenção, de alimento. Eu próprio muitas vezes não consigo acalmar o meu coração.

E, quando ouço o seu grito, pressinto que ele sente fome de algo mais do que aquilo que lhe posso dar. Tu que me lês, dá-te a ti próprio, durante o Advento, alguns momentos de silêncio e de tranquilidade que te permitam procurar-te e procurar o Menino-Deus. E sempre que, no meio do silêncio, surgir em primeiro lugar o barulho interior, suporta-o muito simplesmente. Para, permanece imóvel; oferece o teu coração que grita, para que ele apazigúe a sua fome. É então que o silêncio se tornará um bálsamo e nele poderás mergulhar.

Suportarás então um frente a frente com a tua própria verdade, poderás até saborear o facto de estares muito simplesmente contigo mesmo. No silêncio, ninguém te exigirá nada. Nele permaneces tal qual és, com toda a simplicidade. Mas o silêncio não é apenas necessário durante o Advento, também o é no Natal. Para mim, celebrar a noite da Natividade implica que eu consagre algum tempo a meditar, prestando atenção ao silêncio.

Pois sei que Deus só pode nascer em mim no silêncio. No segundo domingo depois do Natal, cantamos no início da missa um trecho do Livro da Sabedoria: “No instante em que um silêncio reconfortante envolvia todas as coisas e em que a noite chegava ao meio da sua apressada caminhada / do alto dos céus, a Palavra todo-poderosa desceu do trono real.” Pois é no seio do mais profundo silêncio e quando a palavra humana se tiver calado, que se dará o nascimento de Jesus-Menino. Calando-me, não posso obrigá-lo a vir até mim.

Mas o silêncio é condição necessária para que me aperceba da sua presença em mim. Ao fazer silêncio, desço às minhas profundezas, e o caminho que me leva até lá passa pela obscuridade da minha noite, pela noite da minha angústia e da minha solidão. É então que deixo para trás o trono da realeza onde permaneço seguro de mim, e de onde determino e conduzo a minha vida. É então que mergulho até ao fundo de mim mesmo. Porque só aí a Criança pode nascer em mim. É apenas nas profundezas do meu coração, onde já nenhum ruído exterior penetra, que ela se faz ouvir.

 

Anselm Grün Petite méditation sur les fêtes de Noël Paris, Ed. Albin Michel, 1999

1 comentário em “CLUBE DA HISTORIA EM : O Silêncio e a Tranquilidade”

  1. Tão somente guarda-te a ti mesmo é cuida bem de tua própria alma, a fim de que jamais esqueça que o Eterno nasce a cada manhã dentro de ti.

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