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O QUE DIZ SOBRE BURITY NO NOVO LIVRO DE TIÃO LUCENA ” NOS TEMPOS DE JORNAL”

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Tarcisio Burity começou a morrer quando recebeu aqueles tiros, à traição, no rosto, disparados pelo então governador Ronaldo Cunha Lima. Era um cinco de novembro de 1993. Burity almoçava com amigos no restaurante Gulliver, em João Pessoa, quando foi abordado por Ronaldo Cunha Lima, seu sucessor no governo, que disparou três tiros contra ele, porque não aceitava as duras acusações de corrupção que Burity fizera a Cássio Cunha Lima, que na época do fato, era superintendente da extinta SUDENE. Tarcísio Burity ficou vários dias em coma, mas conseguiu sobreviver ao ataque.

 

Sobreviver em parte. Até ali ele jamais se queixara de qualquer doença. A angústia que resultou da impunidade ao agressor e o acobertamento ao caso por gente que teria a obrigação de punir o culpado, sem contar com as injustiças praticadas por uma imprensa abertamente atrelada ao seu quase assassino, enfraqueceram seu coração.

 

O ex-governador ainda tentou, sem sucesso, em duas eleições, chegar ao mandato de senador. Na primeira, embora favorito, foi derrotado pelo empresário Ney Suassuna, com o apoio declarado da máquina governamental comandada por Zé Maranhão. Na segunda, perdeu porque quase não participou do pleito. Ainda assim obteve mais de 500 mil votos.

 

Eu tive a honra de ser seu amigo. Dele e de sua esposa, Glauce. E lamentei muito a sua morte. A Paraíba perdeu um grande homem público. Que se foi jovem, aos 64 anos.

 

QUEM ERA BURITY

 

Até a graduação em direito, na Universidade Federal da Paraíba, sua formação educacional deu-se em João Pessoa. Fez mestrado em Sociologia da Educação na Universidade de Poitiers, na França, e doutorou-se em Ciências Políticas no Instituto Universitário de Altos Estudos Internacionais de Genebra. Antes de entrar na política, foi Promotor de Justiça no município de Araruna, e depois, professor da UFPB, onde lecionou as seguintes disciplinas: Introdução à Ciência do Direito, Filosofia do Direito, Direito Internacional Público, Filosofia Antiga, Sociologia da Educação e História da Educação. Na universidade, também exerceu funções administrativas, como a de Chefe de Gabinete da Reitoria e Diretor da Faculdade de Direito.

 

Em 1975, foi nomeado secretário da Educação e Cultura do Estado pelo Governador Ivan Bichara, por intermediação de José Américo de Almeida. Através de eleição indireta, como ocorria à época, chegou a governador da Paraíba, em 1979, pela ARENA. Em 1982, renuncia ao cargo, para disputar uma vaga na Câmara dos Deputados, recebendo a segunda maior votação da história da Paraíba: aproximadamente 173 mil votos, sendo superado apenas por Pedro Cunha Lima nas eleições de 2014.

Em novembro de 1986, foi eleito, mais uma vez, governador pelo PMDB (desta vez pelo voto popular) e permaneceu à frente do executivo paraibano entre 15 de março de 1987 e 15 de março de 1991. Seus mandatos foram marcados por grandes obras e incentivo à cultura. Construiu o Espaço Cultural José Lins do Rego, com uma superestrutura de teatro, cinema, biblioteca, planetário, museu, galeria de arte, escola de música etc. A Orquestra Sinfônica da Paraíba foi bastante valorizada.

Foi o responsável ainda pela construção do novo Mercado de Artesanato da Paraíba, do Centro Turístico, da via litorânea de Intermares, do Hemocentro da Paraíba, do novo Terminal Rodoviário de João Pessoa, do Hospital de Trauma de João Pessoa, do abastecimento d‘água das cidades de João Pessoa, Bayeux, Santa Rita e Cabedelo, garantindo água para os próximos 30 anos. Sob seu comando, construiu o maior programa habitacional da história, com 50 mil casas construídas. Na capital, alguns dos bairros mais populosos, como o que levou seu nome – tornou-se, porém, mais conhecido como Mangabeira, Valentina e Geisel, e o bairro das Malvinas, em Campina Grande.

Construiu mais de 1500 km de estradas e rodovias dentro do estado, além dos terminais Rodoviários das cidades de João Pessoa, Campina Grande, Guarabira, Patos e Cajazeiras.

Na cidade de Cabedelo, ampliou o porto para a chegada dos grandes navios, aumentando sua capacidade produtiva.

Burity ocupou a Cadeira 26 da Academia Paraibana de Letras, onde ingressou a 14 de agosto de 1992. Era respeitado como intelectual, tendo escrito livros sobre Literatura, Sociologia, Direito e outros assuntos.Recebeu diversas comendas e medalhas nas quais se destacam:

  • Comenda da Ordem do Congresso Nacional – Grau de Grande Oficial – Brasília (1987).
  • Medalha do Governo Berlinense, por ocasião da exposição da arte atual de Berlim, no Espaço Cultural José Lins do Rego – João Pessoa (1988).
  • Placa de homenagem da Universidade Estadual de Maringá, por ocasião do II Encontro Nacional de Filosofia do Direito, onde proferiu conferência sobre “Aspectos da Teoria Geral do Direito” . Maringá/Paraná (1981).
  • Placa de reconhecimento da CCSH da Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul (1981).
  • Medalha de Professor visitante da Universidade Federal de Santa Catarina, onde proferiu conferência sobre o tema “Kelsen e o pensamento conjectural” – Florianópolis – Santa Catarina (1987).
  • Placa de homenagem do Ministério da Educação e Cultura – FUNARTE – Brasília (1978).
  • Comenda D. Pedro I, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo – São Paulo (1987).
  • Placa de homenagem do Poder Judiciário da Paraíba (1980).
  • Medalha Nilo Peçanha (Centenário de Nascimento) – Ministério da Educação e Cultura – Brasília (1979).

Mas, como eu disse lá em cima, depois dos tiros Burity nunca mais foi o mesmo. Acabrunhou-se, vivia a maior parte do tempo triste, não continha o inconformismo diante da falta de justiça para o seu caso. Até que, numa festa social, sentiu-se mal e ao ser levado a uma clínica, descobriu-se que sofrera um infarto.

Até que, depois de internado por 3 dias, no INCOR, faleceu na capital paulista, às 9h45 do dia 8 de julho de 2003, aos 64 anos. A historiadora Glauce Burity, viúva do ex-governador, afirmou em entrevista que “Tarcísio começou a morrer a partir dos tiros que levou no Gulliver“.

3 comentários em “O QUE DIZ SOBRE BURITY NO NOVO LIVRO DE TIÃO LUCENA ” NOS TEMPOS DE JORNAL””

  1. Grande cidadão muito inteligente mas era pra ser bem mas lembrado na história da paraiba e mais homenagem para como um grande papel importante na política e história da paraiba

  2. Grande homem e tão pouco lembrado na história da Paraíba. Sua dor foi marcada pelo inconformismo dos fatos e A traição do traidor.

  3. Após ler essa publicação, esperei por dois dias, antes de tecer algum comentário. Aguardava uma enxurrada de comentários, homenagens póstumas, elogios ao DSc Tarcíscio Burity (que resolvia seus conflitos no campo das ideias)…por falta de merecimento de nosso, quase, conterrâneo certamente não foi. Talvez porque os franceses, suíços, alemães saibam mais dele do que nós.
    Ingá…És cidade do tempo passado que envolves teus filhos de glória
    És cidade que tens no teu lado
    os sepulcros de saudosas memórias.

    Um salve aos vivos, Danilo Rodrigues e Roberto Justino!

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