A Guarda Civil e o Ministério do Interior da Espanha pressionam o Brasil para realizar a prisão de François Patrick Nogueira Gouveia, de 20 anos. O brasileiro é acusado de matar e esquartejar o tio Marcos Nogueira, a mulher dele, Janaína Santos Américo, e os dois filhos do casal, de 1 e 4 anos, na cidade de Pioz, nas proximidades de Madri. Ele nega.
O caso, que chocou o país, é considerado como um dos mais brutais registrados na Espanha.
Na manhã desta quarta-feira, os investigadores da Guarda Civil responsáveis pelo caso deram uma entrevista coletiva em Pioz e garantiram que têm uma série de indícios e provas “inquestionáveis” que demonstrariam a autoria do crime.
“Não temos dúvida da autoria. Para nós, o crime já está resolvido”, assegurou o comandante Reina, da Unidade Central Operativa (UCO) da Guarda Civil espanhola.
Os investigadores lamentaram que o acusado tenha sido interrogado pela polícia brasileira na Paraíba e liberado, apesar da ordem de busca e captura internacional expedida no dia 22 de setembro.
A Guarda Civil espanhola criticou a falta de ajuda das autoridades brasileiras em desvendar o caso, assunto que teve grande repercussão na imprensa espanhola nesta quarta-feira.
Procurada pela BBC Brasil, a Polícia Federal afirmou que está tratando do caso, mas que por enquanto não fornecerá informações.
Sem extradição
Apesar de reconhecer que os cidadãos brasileiros não são extraditáveis à Espanha, a Guarda Civil do país europeu informou que pretende enviar uma comissão ao Brasil para interrogar o acusado, em colaboração com a polícia local.
“Tivemos conhecimento desse depoimento do acusado à polícia brasileira porque vimos um vídeo do advogado dizendo que ele se apresentou. Perguntamos à polícia brasileira, pois até então não tínhamos recebido nenhuma informação oficial de que esta declaração tinha sido realizada”, criticou o tenente-coronel Pascual Luís Segura.
Ele reforçou que cabe à polícia brasileira prender o suspeito e que as autoridades espanholas chegaram a um ponto em que têm de aguardar o atendimento do Brasil à ordem internacional de prisão.
O ministro do Interior, Jorge Fernández Diaz, também afirmou à imprensa nesta quarta que o Brasil não tem a obrigação de extraditar um cidadão seu, mas opinou que “é evidente que, se ele está localizado, a polícia brasileira deveria prendê-lo”.
Perfil violento
A Guarda Civil espanhola afirmou que Patrick é “violento” e ressaltou que ele tem antecedentes criminais no Brasil. Aos 16 anos, o jovem foi acusado de esfaquear um professor.
Segundo o comandante Reina, o acusado tem características de psicopatia, demonstradas por “sua falta de apego à vida humana e de afetividade” e “seu narcisismo e egoísmo”.
O investigador destacou ainda que as vítimas eram “uma família normal e trabalhadora que, como outras tantas, viviam com os recursos que tinham”. Ele assegurou que o casal não tinha nenhum envolvimento com o crime organizado, como se chegou a especular.
Um dos pontos-chaves revelados pela investigação foi que Patrick viajou da Espanha para o Brasil apenas dois dias após os cadáveres terem sido encontrados.
Ele tinha passagem aérea de volta para o Brasil comprada para 16 de novembro e adiantou a viagem para 20 de setembro, em meio à divulgação do crime.
Também foram encontrados restos de DNA de Patrick na casa da família, onde os corpos foram encontrados dentro de sacolas e em estado de decomposição.
A Guarda Civil não deixou claro a motivação do acusado, que, especula-se, pode ter sido passional. O órgão não trabalha com a hipótese de ele ter contado com a ajuda de algum cúmplice, mas também não descarta a possibilidade.
O irmão do tio morto, Walfran Campos, está na Espanha acompanhando as investigações e tenta arrecadar fundos para repatriar os corpos dos quatro familiares para o Brasil.
G1