O arcebispo emérito da Paraíba, dom Aldo Di Cillo Pagotto, parece não ter conhecido ainda o fundo do poço quando o assunto diz respeito às investigações sobre casos de pedofilia envolvendo padres e seminaristas no período em que ele comandou a Arquidiocese da Paraíba. São duas investigações em curso, uma no âmbito do Ministério Público do Trabalho e outra no Ministério Público da Paraíba. O blog teve acesso a trechos das denúncias e elas são muito pesadas.
Ao Ministério Público do Trabalho um dos jovens ouvidos revelou conversa que teria tido com dom Aldo, no momento em que, segundo ele, foi se queixar de “problemas” no seminário. Segundo ele, o arcebispo se mostrou muito mais preocupado em assediá-lo, propondo relações sexuais. Os trechos tiveram o sigilo quebrado para serem incluídos na ação penal 3002945-98.2015.815.2002, a que o blog teve acesso. O processo foi movido por dom Aldo contra Mariana José Araújo da Silva, autora da carta denúncia que resultou no afastamento do arcebispo.
“… o arcebispo aconselhou o depoente que ‘deixasse de besteira e que vocação seria irrelevante para um jovem bonito e apreciado como o depoente, acariciando os seus órgãos sexuais”, contou o jovem em depoimento colhido pelo procurador do trabalho Eduardo Varandas Araruna. A peça foi inserida nas alegações finais apresentadas pelo advogado de defesa de Mariana, Iarley José Dutra Maia. Dom Aldo tenta a condenação da denunciante por injúria e difamação.
Denúncia
Mariana é a autora da carta remetida ao Vaticano que denunciava os supostos casos de pedofilia na Igreja. Depois a acusação, a Arquidiocese da Paraíba foi alvo de “visitas canônicas”, coordenadas pelo Nunciato Apostólico, para averiguar a veracidade das denúncias. No passo seguinte, o religioso foi proibido de ordenar padres e diáconos. O resultado do processo foi a carta renúncia do arcebispo, aceita pelo papa Francisco no dia 6 de julho deste ano. A renúncia foi aceita com base no Artigo 2 do cânone 401 do Código de Direito Canônico, ou seja, por “grave causa”.
Dom Aldo é acusado de ter acobertado os casos de pedofilia e de ter mantido relacionamento com um dos jovens. O processo de Mariana José Araújo Silva tramita no Fórum Criminal de João Pessoa e está na fase seguinte às alegações finais, quando deverá ser decidido pelo juiz Hermano Gomes. O advogado Iarley Dutra alegou nos autos que a não cabe denúncia de injúria e difamação contra a denunciante porque não houve dolo.
As denúncias de acobertamento de casos de pedofilia estão sendo investigadas no Ministério Público da Paraíba, através da Promotoria Criminal de João Pessoa. O órgão recebeu um calhamaço de 88 páginas foi encaminhado pela Polícia Federal com denúncias contra clérigos da Igreja Católica apontando indícios de abuso sexual contra adolescentes. Os documentos foram repassados ao coordenador das Promotorias Criminais em João Pessoa, José Guilherme Soares Lemos.
Fonte: Jornal da Paraíba
Créditos: Suetoni Souto Maior