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CLUBE DA HISTORIA EM : Quebrar Barreiras

 
 clube
 

“Nada do que for dito nesta sala sairá daqui. Esta noite somos uma família, e este é um círculo de confiança inquebrantável.”

Deitei a minha cabeça na almofada e apertei bem contra o peito a bússola que nunca largava, preparando-me para a dor e as lágrimas que eu sabia que viriam. Ia passar as próximas horas dos cinco dias do acampamento de verão numa atividade chamada Quebrar Barreiras, durante a qual descobriria os sonhos, medos, segredos e lutas de dezoito estudantes do secundário que eu conhecia há dois dias e meio. Esperava-se que me abrisse totalmente a eles, pensamento que me causava um enorme desconforto.

Para quebrar o gelo inicial, as perguntas começaram de um modo simples. Não eram as perguntas pessoais de que estava à espera. No entanto, pouco a pouco, fui sentindo que a minha ligação aos outros membros do grupo ia crescendo, e todos conseguíamos notar que o ambiente na sala estava a alterar-se.

À medida que o nosso relacionamento se estreitava, também aumentavam as perguntas cada vez mais íntimas… Perguntas como “O que é que mais temes?” e “Qual foi o momento mais difícil da tua vida?” começaram a provocar lágrimas em alguns dos membros do grupo.

 

No entanto, foi a pergunta seguinte que deu lugar às respostas mais inquietantes da noite: “O que é que gostarias que todos soubessem sobre ti, ainda antes de fazerem qualquer juízo de valor sobre o teu caráter?” perguntou ao grupo Jon, o nosso monitor.

E aqui surgiu um manancial de histórias: relatos de abusos, divórcios amargos, histórias de rejeição, suicídio e depressão…momentos de vida que fizeram com que até os membros aparentemente mais fortes sucumbissem à comoção.

Quando chegou a minha vez de falar, fiz todos os possíveis para parar as lágrimas que me escorriam pela face. Sem saber muito bem o que ia dizer, comecei.

“O que gostaria que as pessoas soubessem sobre mim era que…tenho um tio com atraso mental. E, por causa do seu atraso, quantos desafios tem e teve toda a vida de enfrentar! A última coisa de que precisa é que as pessoas o desrespeitem. Mas é o que muitas fazem! Custa-me que usem contra ele termos depreciativos ou até mesmo insultuosos! Quem me dera que soubessem como a escolha de certas palavras magoa, e nos magoa a todos, na família.”

 Deixei sair a última frase no meio de novas lágrimas. Várias pessoas rodearam‑me com os seus braços e bateram-me amavelmente nas costas.

 

Senti as minhas mãos, que antes tremiam, ficarem de novo firmes, quando me dei conta do que finalmente tinha conseguido partilhar. Nunca antes me tinha erguido contra o uso de vocabulário ofensivo, embora me perturbasse imenso. Sempre tinha assumido, como continuei a fazer nos dias seguintes, que verbalizar em voz alta não faria qualquer diferença.

As pessoas iriam continuar a utilizar essas palavras…

No entanto, a minha opinião mudou quando, dois dias depois do regresso a casa, fui ver a caixa de correio. Encontrei um bilhete de uma rapariga do meu grupo com quem não tinha falado muito.

“Quero agradecer-te. Mudaste a minha vida e fizeste-me compreender que tenho andado a ofender as pessoas com as minhas palavras. Tornaste claro para mim que tenho de mudar e vou fazê-lo.”

 
Sentei-me, num profundo silêncio.

Pela primeira vez, nos meus dezasseis anos de vida, sentia que tinha feito a diferença.

Tinha sido capaz de impedir alguém de ofender outras pessoas com as suas palavras, e dessa experiência extraí a convicção de que posso até impedir mais do que uma pessoa.

Já não tenho medo de me levantar para defender aquilo em que acredito.

Sei agora que bastam uma história e uma pessoa disposta a ouvi-la para que a mudança aconteça.

 

Heidi Patton 

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