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CLUBE DA HISTORIA EM: UM HOMEM DEITADO NO CHÃO

clube

 
 

Quando um dia passava pelo calçadão de Copacabana, reparei num homem deitado no chão.

Lancei-lhe um olhar rápido, mas não me detive.

Habituado a viajar, tinha já presenciado esta cena centenas de vezes em praticamente todos os países que visitara, quer em lazer quer em trabalho.

As estações do ano podiam variar, as pessoas também, mas a situação era sempre a mesma.

Em cidades cosmopolitas, vira homens, mulheres e crianças deitados junto das saídas de ar quente de estações de metro. Em cenários de guerra, tinha-os visto abrigados nos escombros de edifícios destruídos. Quer estivessem bêbadas, cansadas, ou tivessem sido desalojadas e despojadas, as pessoas deitadas no chão há muito tinham deixado de constituir novidade para mim.

Fui tomar café e apressei-me a regressar à redação, pois tinha uma entrevista com um jornalista de um diário de renome. No caminho de volta, reparei que o homem continuava ali deitado e que todos agiam como eu: olhavam e seguiam adiante.

Contudo, naquele dia, algo me fez ajoelhar junto dele e querer levantá-lo.

O homem não reagiu e vi que tinha sangue na testa.

Limpei-a com a minha camisa e ouvi-o murmurar: “Pede-lhes que não me batam mais.”

Era óbvio que o homem estava vivo e que eu tinha de chamar a polícia.

Pedi ajuda à primeira pessoa que passou por nós.

Apesar de estar de fato e de ter na mão uma pasta e alguns embrulhos, o transeunte prontificou-se a ajudar-me.

Depois de termos colocado o homem à sombra, telefonei à polícia e dei as coordenadas do local.

Os agentes disseram que viriam em breve.

Senti-me tão contente como um escuteiro que acaba de praticar uma boa ação. Agora já podia ir ter com o jornalista, porque o problema deixara de ser responsabilidade minha. Contudo, não tinha dado dez passos quando fui interpelado por um estrangeiro.

Num português algo confuso, disse-me mais ou menos isto:

— Eu já telefonei para a polícia por causa deste homem. Mas eles disseram que se não for um ladrão, não vão preocupar-se com ele.

Nem deixei que o homem acabasse de falar.

Dirigi-me à esquadra mais próxima e, convencido de que sabiam a pessoa de sucesso que eu era, interpelei-os.

— O senhor representa alguma autoridade? — perguntaram-me, desconcertados com a minha assertividade e totalmente ignorantes dos meus triunfos profissionais.

— Não, não represento, mas temos de resolver este problema agora mesmo.

Naquele momento, estava relativamente mal vestido e tinha a camisa manchada de sangue. Não passava de um homem comum, de um cidadão anónimo. Mas estava cansado de ver pessoas deitadas no chão sem nunca ter feito algo por elas e isso mudou tudo.

Há uma altura em que deixamos de sentir bloqueios ou medos e os outros sentem que o que dizemos é realmente importante.

Os agentes acompanharam-me ao local e chamaram uma ambulância.

Enquanto me afastava dali, recordei as três lições que aprendera naquele dia:

1.     todos podemos deixar de ser indiferentes;

2.    há sempre alguém que nos encoraja a terminar o que começámos;

3.    todos representamos a autoridade quando estamos convencidos da utilidade do que fazemos.

Autor Desconhecido

1 comentário em “CLUBE DA HISTORIA EM: UM HOMEM DEITADO NO CHÃO”

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