“Eu era professora em Paris, filha de pai francês e mãe brasileira, comecei a trabalhar no Brasil, fazia cursos com meus alunos e em 1992 o governo brasileiro pediu à França para me emprestar para que eu fizesse o projeto para proteção da Serra da Capivara, porque sendo patrimônio da humanidade é obrigação do governo brasileiro protegê-lo. Então a França me emprestou, vim para cá, fiz todo esse projeto. Deixei de morar em Paris para morar em São Raimundo Nonato para defender esse patrimônio e não consegui. Realmente um fracasso total”.
Com essas palavras de desapontamento, a arqueóloga Niéde Guidon, diretora-presidente da Fundação Museu do Homem Americano e reconhecida pelo seu grande trabalho no Parque Nacional da Serra da Capivara, concedeu entrevista à Teresina FM falando sobre as dificuldades enfrentadas pela entidade. Em tom de desabafo, ela mostrou cansaço e decepção pela falta de empenho do Governo Federal para com o parque. Segundo ela, a situação está tão ruim que até o final deste ano a Fundação vai ter que fechar.
“O problema que nós temos é que os recursos estão cada vez mais diminuindo. O deputado Paes Landim fez emenda, tivemos repasse do Iphan, mas infelizmente são recursos para obras, para compra de equipamento e nosso problema é o pagamento de pessoal. Nós já tivemos que demitir uma quantidade imensa de pessoas, é muito triste. A situação está de um jeito que até o fim do ano a Fundação vai ter que fechar. Nós tínhamos recursos da Petrobras, que enviava todo ano e podíamos manter o parque. Tínhamos também a compensação ambiental, em que as empresas cujo trabalho prejudica o meio ambiente eram obrigadas a pagar e muitas escolhiam a Fundação para fazer o repasse, como por exemplo, Chesf e Vale do Rio Doce. Mas o Lula teve a ideia de mudar a lei em 2008 e criar um Fundo em Brasília e sumiu tudo”.
Niéde explica que havia 28 guaritas no Parque com pessoas trabalhando e cerca de 270 funcionários, mas a equipe foi reduzida para 40. A pesquisadora reafirmou ainda da falta que o aeroporto de São Raimundo Nonato faz e o tempo que se perdeu para que fosse construído. Atualmente, o parque tem recebido 25 mil turistas por ano. “O problema não é a pesquisa. Do ponto de vista científico, foi algo extraordinário, sempre contamos com o apoio do Ministério de Ciência e Tecnologia, temos um museu que não existe outro igual na América do Sul. Agora se o aeroporto de São Raimundo Nonato tivesse pronto, que começou essa discussão desde 1987, teríamos 6 milhões de turistas e teríamos recursos para manter o parque. Todo o nosso projeto não precisaria do governo, porque o turismo manteria a região, inclusive traria dinheiro para o Piauí. Nós já tivemos firmas internacionais que queriam construir prédios, mas quando viram o aeroporto desistiram; é muito difícil trabalhar nessa situação”.
A pesquisadora abordou a negligência do governo federal e questionou o fato de haver crise, mas não serem reduzidos cargos em Brasília. Ela alertou ainda para o fato de que se a Fundação fechar, o parque seria destruído. “Eu acho que eu me enganei pensando que no Brasil trabalhando corretamente poderia mudar a situação dessa região que conheci nos anos 80. Tudo que poderia ter sido trazido para essa região para ter um status de primeiro mundo deu errado por causa desse aeroporto e de tudo que temos aqui no Brasil. A situação econômica no país realmente está terrível, mas existe maneiras de resolver o problema. A primeira coisa seria reduzir o número de ministérios que são 39. Porque aumentar impostos em vez de diminuir ministérios? São essas coisas que não entendo na maneira de trabalhar no Brasil. A pesquisa está comprovada, publicada, temos nosso acervo, o problema é que o parque seria abandonado. As pessoas vão entrar, caçar, vão tirar madeiras, muitas guaritas foram destruídas depois que tivemos que tirar os funcionários. Nesse parque nacional foram investidos mais de 4 milhões de dólares que a Fundação conseguiu com o Banco interamericano, com a França, Itália. Como disse a própria Unesco, é uma infraestrutura fantástica, isso pertence ao Brasil e vai ser destruído”.
A arqueóloga diz que para a manutenção de toda a infraestrutura do Parque hoje seria preciso de no mínimo 400 mil reais por mês. Por enquanto a Fundação tem recursos, mas é necessário prever as indenizações, pois se não for restabelecido o financiamento normal o parque terá que ser fechado e os últimos funcionários demitidos. Ela diz que se fosse para recomeçar, não faria tudo de novo. “Eu acho que perdi realmente a minha confiança no Brasil, inclusive estou pensando que tenho que voltar para a França, porque aqui não deu certo. Estou com idade avançada, problema de saúde. Pra mim é o fim de tudo isso. Para me substituir tem pessoas da própria cidade que se formaram e fizeram pesquisa conosco e podem continuar o trabalho se tiverem coragem, mas sem dinheiro não podem fazer nada. E não tem nada a ver o fato de o Parque ser no Piauí, ele é nacional e é obrigação do governo federal, do qual sempre tivemos apoio, mas agora está em redução completa porque o Brasil está falido”.
Por – Isabel Paulino
De imediato lembrei-me de você. Que o cansaço e a decepção da arqueóloga Niéde Guidon, surta em você o efeito contrário: vitalidade e entusiamo. Acredito no trabalho.
Por coincidência recebi hoje um chega pra lá do governo estadual tão grande que se fosse eu um perdedor ou mesmo um frouxo cairia fora, mas estão redondamente enganados comigo
E o pior é que depois vão aparecer vários “pais” alegando a paternidade da criança.
E foi mais ou menos por isso, querem batizar a criança e não me deixam nem ser testemunha, padrinho ou coisa assim, o que eu não faço questão. eu quero é ver a criança nascer.
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