Valter dos Santos fazia faxina e lavava copos antes de emplacar livros com temática espírita no Amazon dos EUA e Reino Unido
A morte precoce da mãe virou uma depressão e uma adolescência conturbada. Trancado no quarto em São Paulo, o jovem Valter dos Santos se considerava uma vítima do universo. O escape era a automutilação. Até o plano do próprio suicídio, tentado num sábado de carnaval de 1990, com o consumo desenfreado de remédios e álcool. Três dias depois, Santos conta que acordou ouvindo vozes de uma mulher e um homem. “Ele já está bem. Podemos ir”, teria dito. Para Santos, a mãe o avô já mortos zelavam por ele.
A experiência mudou o curso de sua vida e o motivou para conquistar o que a depressão limitou por anos. “Retomei a paixão pela vida e a vontade de abraçar o mundo. Sair do Brasil era uma questão de sobrevivência”. Com pouco menos de R$ 1 mil no bolso, Santos embarcou para Londres aos 21 anos, em 2003. Sem formação universitária, virou catador de copos e faxineiro em casas noturnas ganhando cinco libras por hora – o que cobria as despesas da casa compartilhada com amigos.
Após ser pego trabalhando ilegalmente, pois não tinha o visto necessário, Santos foi forçado a abandonar o emprego. “O passaporte não chegava com o visto e eu já estava sem dinheiro. Só tinha atum e alguns vegetais na minha geladeira. Entrei em desespero. Ajoelhei e pedi ajuda a Deus”, relembrou. Foi quando a imagem de uma mulher apareceu. Para Santos, era uma nova visita da mãe. E ela falou: “Aceite um convite de aniversário”.
A mensagem só foi esclarecida no dia seguinte, quando um amigo australiano o convidou para uma festa de aniversário. Na ocasião, Santos conheceu a gerente de recursos humanos da Harrods, luxuosa loja de departamentos no país. Com terno, camisa e gravata emprestados de amigos, Santos foi para a entrevista de emprego. Lá ganhou a experiência profissional para o próximo trabalho, que executa há quase nove anos.
Aos 33 anos, Santos é gerente regional da Kiehl’s, empresa de cosméticos do grupo L’Oréal, com um equipe de 80 funcionários e responsável por R$ 50 milhões da receita anual. O executivo garante que a ausência de um ensino superior nunca foi um problema. Ainda assim, irá cursar psicologia no próximo semestre.
O sonho de ser escritor
Além de redefinir os rumos e as escolhas de Santos, as visitas inesperadas da mãe resgataram o seu sonho de ser escritor. O executivo então apostou no gênero romance espiritualista, com temas kardecistas, como a vida após a morte. O primeiro livro, escrito em inglês em 2012, recebeu o nome “A verdade nunca morre”. Mas foi rejeitado pelas editoras do Reino Unido.
Na época, a Amazon havia lançado uma plataforma para autores independentes. Após o investimento de R$ 15 mil, Santos fundou a J. Bento Publishers, em homenagem ao avô, e publicou o livro por conta própria. O resultado surpreendeu. Ele vendeu mais de 20 mil cópias no Brasil, Estados Unidos, Canadá, Europa e Ásia. “Alcançou o primeiro lugar na categoria espiritual da Amazon nos EUA e no Reino Unido. E o bacana é o boca-boca entre os leitores porque eu nunca gastei nada com publicidade”.