Colunista explica à leitora que padrões de beleza mudam de acordo com o tempo e que não podemos ficar presos a eles para obter e dar prazer
“Não consigo ter prazer porque tenho muita vergonha do meu corpo. Sou gordinha desde criança e já tentei de tudo para emagrecer. Tive poucos relacionamentos na vida e só transo de luz apagada. Mesmo assim, fico travada e não consigo me soltar quando estou transando. Os homens me cantam na rua e alguns até dizem que gostam de mim porque tenho carne para apertar.”
Pois é, querida, estamos sempre tentando nos adequar a um padrão de beleza que é estabelecido pelo momento histórico no qual vivemos. Na Renascença, por exemplo, as mulheres gordinhas e rechonchudas foram imortalizadas por grandes pintores da época. O belo então era a opulência e não a magreza como agora.
Mas não precisamos ir muito longe ver que os padrões mudam com o tempo. Nos anos 50, se contemplava a beleza de mulheres com seios fartos e coxas grossas. Não à toa, a grande musa desse período era a voluptuosa Marilyn Monroe. No entanto, nas últimas décadas prevaleceram os corpos esquálidos e o tipo andrógeno.
Deu para perceber com os exemplos acima como o belo é algo mutável e subjetivo numa cultura? Entenda ainda que a beleza é algo pessoal. Com certeza, você já passou pela experiência de discordar quando alguma celebridade é apontada por um amigo seu como bonita. Do mesmo medo, alguém brincou e te chamou de míope por dizer que determinada pessoa é estonteante.
A cada tempo cria-se um referencial de beleza inatingível pela maioria de nós, afinal esses padrões de beleza ignoram a diversidade racial e cultural de cada povo. A sensação de inadequação, a angústia e o estresse são experimentados pelas mulheres no seu cotidiano. Tudo isso acaba se exacerbando no momento do sexo.
Enquanto nos sentimos inseguranças durante a transa, em função dos nossos corpos, os homens, se preocupam com o tamanho do pênis. O apelo da mídia associando tamanho do órgão masculino ao desempenho sexual tem influenciado eles a buscar recursos para alcançar um inatingível aumento significativo do membro, como se isso fosse garantia de prazer.
Durante o sexo, essas preocupações atrapalham o envolvimento erótico dos parceiros, que deixam de focar nas sensações que uma relação sexual traz. Essa neura pode levar à disfunção sexual.
No caso da mulher, a falta de foco nas sensações, no erotismo e ainda a inibição a impede de chegar ao orgasmo ou mesmo de sentir prazer durante a transa.
Cara leitora, a mulher que consegue esbanjar sensualidade e ser desejável aos olhares masculinos precisa estar à vontade com sua sexualidade e, consequentemente, com o seu corpo. Muitas vezes, usamos a condição estética para justificar nossas inibições e travas sexuais.
Não deixe que seu prazer fique submetido a uma questão estética. Você mesma diz que vários homens se sentem atraídos por você. Veja como a crítica ao seu corpo é sua e não dos parceiros ao longo da vida, Permita-se ser desejada e desfrute do prazer disso.
Você está transando e não num concurso de beleza. Se ele escolheu estar com você é porque a deseja e se excita ao te ver e tocar. Acenda as luzes e tenha uma ótima transa.
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Fátima Protti é psicóloga, terapeuta sexual e de casal. Pós-graduada pela USP e autora do livro “Vaginismo, quem cala nem sempre consente”. Escreva para a colunista: [email protected].