Maior aliado do Planalto acredita que uma postura mais independente poderá salvar sua reputação e viabilizar a possibilidade de voltar a disputar a presidência
Se o desejo de se descolar do PT já era forte no final do ano passado, o início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff ajudou a aumentar esse anseio na bancada do PMDB na Câmara. O PMDB faz uma lista de motivos para justificar a necessidade de um novo tom na relação com o PT e o governo. Argumentos que agora têm servido de base na sustentação da ideia de que se o partido deseja disputar a sério a presidência em 2018, precisa adotar uma nova postura com o Planalto daqui para frente, ou corre o risco de afundar junto com o governo, em caso de naufrágio.
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Fora as medidas impopulares de ajuste que preveem, entre outras coisas, alterações no acesso a benefícios trabalhistas na direção do equilíbrio fiscal, entre as fileiras peemedebistas há uma lista de outras queixas. As intervenções do Planalto na disputa pela Mesa Diretora, cujos frutos do ressentimento ainda não foram colhidos, o sentimento anti-PT e uma reforma ministerial que agradou a poucos no PMDB são citados. Além disso, diante da falta de diálogo e perda de sintonia entre os aliados, o PMDB considera que o governo o trata como adversário. Nem mesmo o vice-presidente Michel Temer tem sido um canal adequado para reatar a relação.
Mesmo no Senado, onde o governo e o PMDB aparentemente vivem uma relação estável, os primeiros focos de insatisfação já apareceram.
Fora o apoio explícito, por exemplo, de Romero Jucá (PMDB-RR) a Aécio Neves (PSDB) na disputa presidencial, quatro senadores recusaram-se a apoiar a candidatura de Renan Calheiros (PMDB-AL) para a disputa da presidência da Casa, como queria o Planalto. Além do próprio Luiz Henrique (PMDB), que disputou o cargo com apoio da oposição, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), Waldemir Moka (PMDB-MS) e Dário Berger (PMDB-SC) se recusaram a rezar a cartilha do Planalto e votaram contra Renan.
Estratégia
Para completar o bloqueio na comunicação entre o governo e o maior partido aliado, as inserções de propaganda partidária do PMDB exibidas na semana contribuíram com o clima de insegurança. As inserções de 30 segundos chamaram para o programa que vai ao ar na próxima quinta-feira (26) e que contará com a participação de todos os ministros do partido nomeados por Dilma, além dos caciques do partido como Temer, os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e do Senado Renan Calheiros.
Temer aparece dizendo que o PMDB estará sempre “do lado do Brasil”. Para alguns integrantes do partido, a frase soou dúbia em meio ao clima anti-governo crescente após as denúncias de corrupção na Petrobras e depois das medidas impopulares do pacote fiscal anunciado após as eleições.
Parte do PMDB nega que a frase tenha sido colocada como ameaça de desembarque, caso o governo enfrente dificuldade. No entanto, a alegação é de que a dubiedade ocorreu porque o programa não considerou, erroneamente, o atual contexto político. A infelicidade dos marqueteiros do PMDB, portanto, foi usado como justificativa para o tom que na visão de muitos é um sintoma para que o partido perceba que é hora de assumir uma postura mais crítica com relação à gestão Dilma.
Mas há o grupo que não acredita que a propaganda tenha sido fruto de um equívoco de abordagem. Principalmente no PMDB da Câmara, a mensagem contida nas inserções dialoga com o anseio da bancada. Esse grupo procura convencer diferentes setores do partido a defender o argumento de que o PMDB precisa estar mais sensível ao eleitorado e menos comprometido com um governo que sofre sucessivas avaliações ruins nas pesquisas de popularidade.
Parlamentares do partido consideram que as manifestações de junho de 2013 inauguraram uma nova forma do eleitor se relacionar com os políticos, impulsionado pelas redes sociais e articulações oriundas dessas ferramentas. Por isso, a legenda acredita que se quiser mesmo ter um nome viável para disputar a presidência, precisa antes estar em harmonia com os anseios da população. Por isso o desejo de discutir sempre os projetos vindos do governo para demonstrar que não há alinhamento automático.
Jejum
O PMDB não disputa uma eleição presidencial com nome próprio desde 1994, quando Orestes Quércia foi o candidato. Chegará a 2018 com 24 anos de ausência. Isso, na visão de muitos, não apenas enfraquece o partido, mas ajudou a destruir a imagem de vanguarda que um dia o PMDB carregou, dando à sigla a fama de partido oportunista que caminha a reboque de aliados mais fortes. Daí a bancada procurará resgatar a imagem do PMDB como partido de vanguarda sintonizado com os anseios da população