Para as crianças, o “namorado” não é nada mais do que um grande amigo, por quem se tem apreço e consideração. A relação mais séria, porém, não deve ser estimulada
Quando o adolescente resolve contar que está namorando nem sempre a resposta dos pais é positiva. Imagina na infância, então. Mil e uma fantasias passam pela cabeça dos adultos, como se a criança realmente estivesse vivendo uma relação de intimidade com algum amiguinho da escola. Porém, os especialistas garantem: não há motivo para se preocupar tanto assim.
Isso porque, na cabeça da criança, o conceito de namoro é muito distorcido quando comparado à ideia original, que tanto assusta os pais. Na infância, o ato de namorar funciona como uma grande amizade, relação em que as crianças se gostam e apreciam a companhia uma da outra.
O namoro na infância não quer dizer, necessariamente, que elas compartilham beijinhos pelo pátio da escola. “A criança não sabe o que é um namoro. Cabe aos pais, portanto, perguntarem o que a criança entende daquilo, antes de existir a preocupação. Se é só uma amizade inocente, tudo bem, é normal. Se ela falar de atos de intimidade, aí sim é preciso se preocupar”, explica Andrea Bellingall, psicóloga e diretora escolar.
Ela ressalta que, em uma situação como essa, é preciso explicar que esse tipo de relacionamento é inadequado para crianças. O melhor caminho é enfatizar a importância da amizade e não estimular que a relação continue.
Conversa sincera
Assim que a criança revelar a existência de um “namoradinho”, os pais devem ficar atentos e tentar entender essa situação. Para o psicólogo comportamental Carlos Esteves, é fundamental não ignorar a revelação e explicar aos pequenos as diferenças entre ter um amigo e ter um namorado.
“Os pais precisam diferenciar as relações, porque senão a criança se confunde e não aprende o verdadeiro conceito de namoro. Tudo deve ser explicado de acordo com a maturidade dela para que não seja um ensinamento precoce. Outro caminho é lembrar que meninos e meninas podem se relacionar como amigos, sem precisar chamar isso de um namoro“, reforça ele.
Antes de proibir a criança de se relacionar com o namorado em questão, é fundamental manter a calma e ter uma conversa clara com o filho. “A punição não ensina nada. A criança pode não saber o que fazer numa situação dessas. Namoro é um processo sentimental, muito característico, e as crianças não entendem isso. Os pais devem ajudá-las a perceber as diferenças de cada relação, e nunca punir ou proibir”, acrescenta Carlos.
Carinho
Quando o pequeno Matheus, de quatro anos, disse que estava namorando, a primeira reação de Claudia Larini de Oliveira foi achar que o filho se referia a algum amigo imaginário. A família resolveu, então, questioná-lo melhor sobre isso: quem era essa pessoa, onde estudava, quantos anos tinha. Para surpresa da família, Matheus estava falando a verdade e a recíproca era verdadeira. Isadora, também de quatro anos, estudava na mesma sala que o menino e era a tal namorada mencionada por ele.
“Achei muita graça da situação toda, mas não ri na frente do meu filho e fiz uma série de perguntas sérias para ele. Depois, entrei em contato com a escola e também com a mãe da menina, para entender melhor o que estava acontecendo. Me disseram que eles tinham um carinho grande um pelo outro, que brincavam juntos e se defendiam. Ao falar com a mãe da Isadora, descobri que ela também falava do Matheus em casa e que o sentimento entre as crianças era recíproco”, conta Claudia.
Nenhuma das famílias achou o “namorico” impróprio para a idade das crianças. Segundo Claudia, ficou claro que o que existe entre Matheus e Isadora é uma grande amizade, nada além disso. Claudia e Carol, mãe de Isadora, fazem questão de acompanhar de perto o relacionamento das crianças para garantir que vivam tudo aquilo que é adequado à faixa etária.
“Namoro é só uma nomenclatura. Nunca proibimos essa amizade deles, pelo contrário. Sempre ressaltei para o Matheus que ele deve cuidar da Isadora, não por serem namorados, e sim porque amigos se cuidam. É uma relação bonita, tranquila e saudável. E é assim que eu quero que meu filho enxergue um namoro no futuro, com carinho e respeito”, confessa Claudia.