As ruas estavam decoradas com fios prateados e luzes coloridas. As lojas ostentavam anjinhos, veados e duendes sorridentes.
Havia Pais Natais em todo o lado. E Belinda também queria celebrar o Natal.
— Não sejas pateta — disse-lhe a mãe. — Nós não celebramos o Natal.
Mas Belinda queria oferecer presentes. Queria fazer bolachas com formato de estrelas. Queria cantar canções de Natal. Queria ter uma árvore de Natal, coberta de bolas brilhantes e luzes tremeluzentes. E um anjo no topo.
— Toda a gente celebra o Natal — insistiu.
— Não, não celebra — retorquiu a mãe. — As pessoas têm festas diferentes.
Belinda franziu o sobrolho.
— Pelo menos parece.
— Já pensaste no Tio Franck? — perguntou a mãe. — Ele não celebra o Natal. E a minha amiga Sandra e a família dela também não. Nem a tua amiga Emily. O médico que te tratou no verão passado também não celebra o Natal.
— Mas celebram os outros — continuou.
— Não te importes com isso — aconselhou a mãe.
— É difícil! — confessou Belinda.
A mãe ficou pensativa. Belinda continuou:
— Podíamos ao menos ter uma árvore. Não muito grande — acrescentou.
— Há muitas árvores lá fora. Que é onde devem estar — opinou a mãe.
Belinda foi para as aulas. A turma estava a fazer serpentinas de papel.
— Já fizeste a tua árvore? — perguntou Amy.
Belinda interrogava-se sobre o que faria com a sua serpentina.
— Não, ainda não — respondeu.
— Vou fazer uma caixa especial para a minha mãe guardar as canetas dela — disse David.
— E eu vou fazer uma jarra para a minha. O que vais fazer para a tua mãe, Belinda? — perguntou Amy.
— Ainda não decidi — respondeu ela.
— Vou pedir ao Pai Natal que me traga um skate — disse Amy. — E tu, David, o que vais pedir-lhe?
— Eu quero uma bicicleta nova — disse David.
— E tu, Belinda?
— Acho que a minha serpentina é comprida demais — respondeu esta.
Nessa noite, Belinda estava a ver televisão com os pais.
Três ursos polares cantavam canções, com chapéus de Pai Natal.
— Estás muito calada, filha — reparou o pai.
— Hum — retorquiu Belinda.
— O que se passa? — insistiu o pai.
— Nada — respondeu a filha.
— O que é aquela coisa verde e vermelha que puseste no cesto de papéis? — perguntou a mãe.
— Nada — respondeu Belinda.
A mãe soergueu a serpentina de papel.
— Não me parece que seja nada — comentou.
— É uma coisa sem interesse que fizemos na escola.
— Oh! — exclamou o pai.
A mãe debruçou-se sobre o marido e sussurrou:
— A nossa filha está aborrecida porque não celebramos o Natal.
─ Ah! — exclamou o pai.
Era véspera de Natal. Não havia ninguém com quem brincar ou sequer ver um vídeo. Todos estavam a preparar-se para o Natal. Todos exceto Belinda, que observava da janela a neve a cair lá fora.
— Vais ficar aí o dia todo? — perguntou a mãe.
— Talvez — respondeu Belinda.
— Porque não vais brincar lá para fora? — sugeriu a mãe.
— Não me apetece — respondeu a filha.
— E se levasses o teu trenó?
— Não me apetece — respondeu Belinda.
— E que tal veres um vídeo?
— Não me apetece.
— Queres ajudar-me a fazer bolachas? — perguntou por fim a mãe.
— Bolachas? — admirou-se Belinda.
— Sim. Até tenho algum açúcar vermelho e verde que podemos pôr-lhes por cima.
— Como se fossem bolachas de Natal? — perguntou Belinda.
A mãe sorriu:
— Mais ou menos.
O pai entrou em casa.
— Cheira bem! — gritou do patamar.
— São bolachas mais ou menos de Natal — anunciou Belinda.
Foi então que viu que o pai trazia uma árvore muito pequenina num vaso.
— O que é isso? — quis saber a filha.
— É um pequeno louro que estava à venda no supermercado — respondeu o pai.
Colocou a árvore em frente da janela.
— Penso que ficaria bonita com a tua serpentina de papel — disse o pai.
— E sabes que mais? — perguntou a mãe de Belinda. — Penso que tenho alguns lacinhos que lhe ficariam bem.
— E que tal se pendurássemos algumas bolachas? — continuou o pai. — Ficava mais alegre.
Belinda olhou para a mãe e para o pai.
— Querem dizer que podemos decorá-la como se fosse uma árvore de Natal?
— Mais ou menos — respondeu o pai.
Chegou, por fim, o Dia de Natal.
O pai de Belinda estava sentado na sala, a olhar para a árvore-mais-ou-menos-de-Natal.
— É muito bonita, sobretudo por causa da tua serpentina de papel. É pena que mais ninguém a veja.
— É mesmo isso que eu estava a pensar — disse a mãe. — Temos tantas bolachas deliciosas e ninguém para ajudar a comê-las.
O pai exclamou:
— Tive uma ideia. Porque não convidamos alguns amigos para as partilharem connosco?
— Mas hoje estão todos a celebrar o Natal — disse Belinda, com tristeza.
— Nem todos. O Tio Frank, a Sandra e a família dela, a Emily e a família dela, e aquele médico simpático que te tratou no verão passado…
Belinda estava a divertir-se imenso. A sala estava cheia de gente. Estavam todos a comer bolachas, a beber ponche e a jogar jogos. O médico estava a contar histórias. Todos se riam.
— E vejam só o que encontrei no sótão — disse a mãe de Belinda. — Luzinhas da festa de aniversário da Belinda!
— Perfeito! ─ exclamou o pai. — Podemos pô-las na árvore.
Todos se puseram em círculo a observar.
— Que bonito! — admiraram, quando as luzes se acenderam.
— Que festa bonita! — disse a Emily.
— É a melhor de todas as que assisti — disse a Sandra.
— Concordo plenamente — assentiu o médico.
— Até parece uma festa de Natal — sorriu o Tio Frank.
— Oh, Tio Frank! — exclamou Belinda — Mais ou menos.
Dyan Sheldon
Sally Grindley (org.)
Christmas stories
London, Kingfisher, 1994
(Tradução e adaptação)
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