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Condenado no mensalão seria responsável por notas frias em desvios na Petrobras

Enivaldo Quadrado foi condenado a três anos e seis meses de prisão no julgamento do mensalão e agora é apontado por testemunhas como um dos braços operacionais de Youssef

Durante as investigações da Operação Lava Jato, um personagem que, aos poucos, começa a ganhar importância na montagem do quebra-cabeça para desarticular o esquema de corrupção na Petrobras é um ex-réu no mensalão: Enivaldo Quadrado, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em agosto de 2012, a três anos e seis meses de prisão mais multa de R$ 232 mil pelo crime de lavagem de dinheiro. A pena de prisão foi convertida, um ano depois, em prestação de serviços à comunidade.

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Nas investigações da Lava Jato, Quadrado tem sido citado em vários depoimentos como o responsável por determinar a emissão de notas fiscais frias da GFD Investimentos, empresa tida como de fachada utilizada para o recebimento de propina de Alberto Youssef junto às nove empresas investigadas no âmbito da Operação Lava Jato, que mantinham contratos com a Petrobras. Em alguns depoimentos, Quadrado é citado como homem que supostamente formulou contratos de fachada entre as empresas de Youssef e as empreiteiras.

Segundo as investigações, as notas fiscais frias eram emitidas por Quadrado a mando de Alberto Youssef após as negociações de contratos fraudulentos. As notas fiscais tinham o objetivo de legitimar o pagamento por serviços as empreiteiras que, em alguns casos, nunca foram realizados, conforme as investigações da Polícia Federal. Algumas destas notas fiscais, conforme as investigações foram expedidas após Quadrado ter sido condenado pelo STF.

Em depoimento prestado à Justiça Federal, o administrador da GFD Investimentos, Carlos Alberto Cosa, afirmou que “seu Alberto Youssef passava pro senhor Enivaldo Quadrado, que era o financeiro, que precisava receber X mil reais, ou milhões, da empresa tal. Então o senhor Enivaldo entrava em contato com a empresa, fazia o contrato, providenciava o contrato e me avisava”, afirmou em depoimento à Justiça Federal. “Como eu ficava mais no Rio de Janeiro do que em São Paulo, ele dizia… ‘olha, quando é que você vem pra São Paulo’, ‘tal dia’, ‘então precisa assinar um contrato aqui’, eu olhava, analisava, o contrato pra ver se não havia nenhum tipo de absurdo ali e nenhum tipo de discrepância no contrato e formalizava isso”, revelou o administrador da GFD Investimentos.

A ex-contadora de Youssef, Meire Poza, também citou que algumas notas fiscais e contratos tidos como fraudulentos pela Polícia Federal foram emitidos por Quadrado. Ela sugere que o ex-réu se beneficiou com a expedição de algumas notas fiscais. “O Carlos (Alberto Cosa) não tem um gato para puxar pelo rabo. Doutor, vou lhe falar uma coisa. Eu ganhei mais dinheiro do que o Carlos. Porque eu emitia a nota, eles recebiam, rachava com o Enivaldo e eu ficava com um pedaço. O Carlos nem isso”, disse Meire Coza, em reunião com advogados cuja conversa foi interceptada pela Polícia Federal. “No tocante as notas emitidas pela GFD para a Sanko Serviços, Meire ‘afirma terem sido emitidas a mando de Enivaldo Quadrado’”, apontam os relatórios da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado (Drcor) da Polícia Federal do Paraná.

Material apreendido na mesa de trabalho de Enivaldo Quadrado, em abril deste ano, conforme os apontamentos da Polícia Federal aponta a expedição de dez notas fiscais “emitidas por serviços prestados, nas quais o prestador é a GFD Investimentos LTDA e o tomador é a Clyde Union Imbil Ltda”, uma empresa que fez proposta comercial ao Consórcio Nacional Camargo Corrêa para o fornecimento de bombas hidráulicas a serem utilizadas na Refinaria Abreu e Lima. Juntas, essas notas fiscais teriam gerado recursos da ordem de R$ 1,1 milhão às empresas de Youssef, conforme os investigadores.