MPF aponta transferências bancárias de até R$ 150 mil de uma lanchonete em favor de José Janene, líder do PP morto em 2010; suspeita é que transações ocultaram repasses a políticos
Laudos feitos pela Secretaria de Pesquisa e Análise do Ministério Público Federal (MPF) no âmbito da Operação Lava Jato confirmam repasses de valores diretamente da contas de empresas ligadas ao doleiro Alberto Youssef a empresas controladas pelo ex-deputado federal José Janene (PP-PR), réu do mensalão morto em 2010. Janene é apontado como homem que orientava o repasse de recursos a políticos envolvidos no mensalão e também no esquema de corrupção da Petrobras.
Na segunda-feira da semana passada, o doleiro Alberto Youssef confirmou em depoimento à Justiça Federal do Paraná que mantinha uma conta conjunta com Janene e que o ex-parlamentar era o responsável pelo pagamento a políticos. No depoimento, Youssef disse que se utilizava de um segundo doleiro, Carlos Habib Carter, o Habib, dono do Posto da Torre em Brasília (empreendimento que deu origem ao nome da Operação Lava Jato), para efetuar esse repasse aos políticos a pedido de Janene. Pelo depoimento de Youssef, esse dinheiro vinha de empreiteiras. “Tudo o que o seu Janene precisava de recursos ele pedia a mim e eu disponibilizava”, disse Youssef no depoimento.
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Um exemplo da possível disponibilização de recursos são depósitos de contas da empresa Torre Comércio de Alimentos, uma lanchonete do Posto da Torre, cujo dono era Habib, em favor de contas de empresas ligadas a Janene, como a Ferramentas Gerais Comércio e Importação LTDA ou CSA-Dunel. Uma outra possibilidade é apontada em depósitos da empresa Angel Serviços Terceirizados, também supostamente controlada por Habib, em favor da Ferramentas Gerais. A suspeita da PF e MPF é que essas contas eram utilizadas para lavar dinheiro de empreiteiras e encaminhar propina a políticos.
Transferências
Conforme os laudos do MPF anexados esta semana a um dos processos da Lava Jato, houve a comprovação de várias transferências em valores que variavam de R$ 130 mil a R$ 150 mil da Angel Serviços Teceirizados ou da Torre Comércio de Alimentos em favor das empresas controladas por Janene. Somente no dia 08 de julho de 2008, por exemplo, o MPF conseguiu comprovar o pagamento de R$ 130 mil da Angel Serviços para a Ferramentas Gerais; houve também a comprovação de pagamentos da ordem de R$ 145 mil entre a Torre Comércio de Alimentos diretamente à Ferramentas Gerais. A estimativa da PF é que pelo menos R$ 1,1 milhões foram lavados por meio de contas controladas por Alberto Youseff.
Ainda conforme as investigações, houve também a tentativa de transferências bancárias nos dias 07 e 08 de julho das contas da Torre Comércio de Alimentos e Angel Serviços no valor de R$ 641 mil. Mas essas transferências não foram feitas, conforme a perícia do MPF, por conta de falhas no serviço bancário.
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Nos depoimentos, Habib negou o crime de lavagem de dinheiro e disse que esses repasses de suas contas eram pagamentos de empréstimos obtidos junto a Youssef. Uma outra versão da origem deste dinheiro, mas relacionada aos responsáveis das empresas CSA-Dunel e Ferramentas Gerais Comércio e Importação LTDA, é que os repasses eram fruto de pagamento de investimentos obtidos por Janene nestas empresas.