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Dos ambientes mais conservadores da universidade toda, a FEA (Faculdade de Economia e Administração) vai sediar semana para discutir a diversidade. Todo mundo pode comparecer
A FEA, Faculdade de Economia e Administração da USP, uma das principais siglas que estudantes desta área no Brasil podem ter no currículo, tem uma fraqueza: a discussão da diversidade no ambiente estudantil. Mais do que isso: a própria existência (ou visibilidade) da diversidade no campus. O diagnóstico é de dois estudantes, Marcos Vinicius Alves Passos, 20, que cursa o primeiro ano de Administração, e Beatriz Montenegro, 21, que está no segundo ano de Economia.
Para abrir espaço para esses assuntos, os dois, junto com outros membros do Centro Acadêmico Visconde de Cairu, organizaram a Semana da Diversidade CAVC FEAUSP, que vai discutir um tema por dia de segunda (29 de setembro) a sexta (3 de outubro) da semana que vem (confira programação abaixo). “A gente vai falar sobre raça, religião, gênero, sexualidade e outras minorias”, diz Marcos. Beatriz não faz exatamente parte de nenhuma minoria oprimida, mas ainda assim se preocupa com a situação da faculdade. “Sou branca, não sou cotista, sou hetero, mas às vezes, como mulher, me sinto atacada pela cultura do machismo”, diz ela, cofundadora do coletivo feminista da faculdade. “Sinto necessidade da discussão sobre machismo num ambiente onde os homens são maioria. A proporção de mulheres para homens na FEA é de 30% para 70%”, registra.
E Beatriz acha ainda mais séria a ausência de uma cultura da diversidade sexual, na USP como um todo e na FEA em especial. “A FEA não tem festas voltadas para gays, por exemplo”, diz ela, que vai além: os alunos gays são praticamente invisíveis. “Não se vê casais que não sejam hetero expressando afeto na FEA”. Sávio Xavier Lopes sabe bem o que é isso. Como muitos gays de 23 anos, ele gosta de Lady Gaga, Beyoncé, Jennifer Lopez e Britney Spears, como fica claro pelo Facebook dele, que fomos autorizados a navegar. Mas como estudante do terceiro ano de Administração na FEA, ele não pode cumprimentar seus amigos com um beijo no rosto sem causar estranhamento.
DE 8 A 150
Um dos membros iniciais do coletivo gay FEA Society, que reúne os alunos LGBT da FEA, Sávio diz que a situação melhorou desde que entrou na faculdade. “Três anos atrás a política era a do ‘Não pergunte e não conto’”, diz ele. “Até hoje nós fazemos amigos e ficamos fechados, acabamos indo às festas das faculdades vizinhas, como a ECA e a FAU, onde tem mais abertura e nos sentimos mais à vontade. Isso é uma coisa que estamos tentando mudar e a atuação do grupo ajudou muito.”
Quando foi criado, no fim de 2012, o FEA Society tinha 8 membros – Sávio era um deles. “A ideia era a seguinte: se você conhece alguém que é gay, adicione ao grupo. Todo gay conhece algum outro gay e assim vai indo”, diz ele. Hoje o grupo tem cerca de 150 participantes. “Estamos ganhando espaço. Na semana dos calouros a gente foi lá distribuir panfletos e o grupo cresceu bastante. Estão dando espaço para a gente e a gente está aproveitando.”
Sávio comemora a iniciativa da Semana da Diversidade. “Achei o máximo, primariamente porque nunca vi isso acontecer na FEA. Queria parabenizar o CAVC por isso, é um pontapé inicial”, diz ele, que confirma que a FEA é um dos piores lugares para ser gay na USP.
“A FEA é um dos ambientes mais conservadores da USP toda, junto com a Poli e um pouco a Medicina. Talvez porque as carreiras são mais conservadoras, predominantemente masculinas.” Ele diz que não há espaço para nenhuma demonstração de afeto gay. “No máximo cumprimentar um amigo com um beijo no rosto, e as pessoas em volta olham estranho. Talvez não seja preconceito, mas porque não estão acostumados com esse tipo de coisa, percebemos as reações ao redor.”
Os debates estão abertos para alunos da FEA, da USP toda e quem mais quiser aparecer. O limite de comparecimento é a lotação do auditório.
Veja a programação a seguir: