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Pai relata dor de perder filhos

TRAGÉDIA. Delegado de polícia rompe silêncio, em pleno luto, para defender a honra da família

Amor de pai é incondicional. “Só não quero que deixem a imagem do meu filhinho como um monstro”, revela Kelsen Vasconcelos. Só o amor pode ser maior que a dor do pai que teve duas filhas assassinadas a golpes de faca pelo filho, Filipe Paulino Vasconcelos, de 21 anos, provavelmente durante um surto psicótico. Ao falar de Maria Clara Paulino Vasconcelos, 19, e Amanda Paulino Vasconcelos, 22, a fortaleza montada pelo experiente delegado de polícia para dar a entrevista se desmancha. O homem da lei sai de cena e finalmente deixa as lágrimas rolarem nos olhos do pai que tem o coração açoitado pela lâmina fria da morte.

O delegado Kelsen só aceitou romper o silêncio da família, em pleno luto, para cumprir o papel paterno mais essencial: o de defender a honra e a memória dos seus filhos, sobretudo de Filipe, que também morreu durante o episódio. Concordou em falar com exclusividade para a Gazeta, sob a condição de não ser filmado ou fotografado e me recebeu, na sexta-feira pela manhã, num apartamento vazio, na Pajuçara, que a família usa para alugar.

Com o apoio de dois irmãos que o acompanhavam, Kelsen deixou claro que o objetivo maior da família é desmistificar uma série de especulações que surgiram em torno do caso. Sobretudo que Filipe sofria algum trauma por causa da separação dos pais, teria transtorno bipolar, depressão ou mesmo deixara de tomar remédios controlados para evitar crises psiquiátricas.

Para o pai, só existe uma explicação plausível para a tragédia do Edifício Andréa, na última segunda-feira: um episódio de surto fulminante (e inédito), que levou Filipe a matar as irmãs sem nenhuma consciência do que estava fazendo, muito menos qualquer lampejo de premeditação. “De repente, a pessoa se vê acuada num lugar (psicólogos levantam essa hipótese), num surto que pode gerar uma alucinação, em que ele desconhece as pessoas e as trata como se fossem monstros”, argumenta Kelsen.

A hipótese de que Filipe teria matado as irmãs para se suicidar é descartada pela família, amigos e por quase todos que os conheciam de perto. Que o irmão teria tramado o crime, então, é algo fora de cogitação para os parentes. “Eles se gostavam muito, sempre se deram muito bem e todos tinham planos para o futuro; o Filipe estava envolvido com os seus projetos (na área de computação) e falava que ia se preparar para fazer o Enem”, explica o pai.

Segundo Kelsen, não é correto afirmar que o rapaz tinha um histórico de transtornos de comportamento. “Quero primeiro desmistificar que ele tinha problema psiquiátrico, era apenas um mau humor. Ele sempre foi introvertido, era o jeito dele, mas a válvula de escape era escrever, desenhar, ler, estudar e gostava muito de criar jogos de RPG. Também nunca houve nenhum trauma”.

Circulou em alguns veículos de comunicação e redes sociais que Filipe estaria transtornado com a separação dos pais, mas a verdade é que o divórcio aconteceu há oito anos. Ao contrário do que foi divulgado por aí, Kelsen não teve outros filhos nem se casou de novo. O tio das vítimas, Aderson Vasconcelos, também faz questão de deixar claro que o irmão sempre esteve presente na vida dos filhos, com amor, suporte financeiro e apoio moral.

Quando pequeno, Filipe era agitado. “Por indicação da escola, procuramos uma psicóloga porque ele parecia hiperativo, mas ela chegou à conclusão que se tratava de uma criança apenas com muita energia, como qualquer outra”, explica. Por conta do mau humor que Filipe apresentava na adolescência, os pais recorreram a um psiquiatra. “Ele receitou medicamentos, mas só para melhorar esse mau humor, não era problema psiquiátrico. Depois de um tempo estabilizou e ele parou de tomar os medicamentos, há uns três ou quatro anos”, explica Kelsen. ‡

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