Último credo
Como ama o homem adúltero o adultério
E o ébrio a garrafa tóxica de rum,
Amo o coveiro – este ladrão comum
–
Que arrasta a gente para o cemitério!
É o transcendentalíssimo mistério!
É o nous, é o pneuma, é o ego sum qui sum,
É a morte, é esse danado número Um
–
Que matou Cristo e que matou Tibério!
Creio, como o filósofo mais crente,
Na generalidade decrescente
Com que a substância cósmica evolui…
–
Creio, perante a evolução imensa,
Que o homem universal de amanhã vença
O homem particular que eu ontem fui!
Na primeira estrofe do poema, o sujeito retrata o sentimento amoroso dos homens
àquilo que os completa, o apego que cada um tem ao elemento que lhe é conveniente e que
lhe traz felicidade. Desta maneira, de forma semelhante ao homem adúltero que ama o adultério, e ao ébrio que ama a sua garrafa de rum, ele, que é homem mortal e fadado a este destino, ama aquele que o carrega a esta finalidade, o coveiro. Aqui, o coveiro, tido como um ladrão comum pode ser visto como uma pessoa que arrasta, que conduz à força ao seu fim.
Desta forma, podemos entender o sentimento que o sujeito expressa pelo
coveiro, pois é este quem vai levá-lo ao destino de sua vida.
Nas últimas estrofes, retomando o título do poema, o eu expõe as suas crenças, não
exatamente cristãs, com. A crença, o amor e a figura de
Cristo são apresentados aqui, não como meios de uma crença salvacionista, mas, ao contrário, são apontados como faces confirmadoras da “lei” da morte.
Conforme dissemos, os poemas de Augusto dos Anjos estão envoltos dos mais
diversos comentários e estudos.