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Relembrando um fiasco na cidade do Ingá ( Vanderley de Brito*)

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            Me lembro bem que, por determinação do Ministério Público frente um lote de cartas enviadas ao Presidente Lula cobrando ações de preservação ao sítio arqueológico Pedra do Ingá, assinadas por crianças da Escola Santa Dorotéia de João Pessoa, no dia dois de novembro de 2007 foi organizada na cidade do Ingá a “Oficina Preservação e Sustentabilidade do Parque Arqueológico do Ingá”, evento que envolveu a Secretaria de Estado de Turismo e Desenvolvimento Econômico, a prefeitura municipal de Ingá, a Pbtur, a Superintendência do IPHAN PB-RN, além de Secretários Municipais de outras localidades do Agreste e corpos técnicos dos seguintes órgãos: Iphan, Iphaep, Suplan, Ibama, Sudema, UFPB, DER, Aesa, Secretaria de Estado de Segurança e Defesa Social, Nidhir, Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia, Prodetur, Sociedade Paraibana de Arqueologia, Procuradoria do Domínio, PGE e Setde. Só faltou show pirotécnico em homenagem ao evento que vinha para solucionar o abandono em que estava nosso mais célebre sítio arqueológico.

Até eu, que sou céptico com relação a estas reuniões-oficinas (gato escaldado), pensei que dessa vez a coisa ia. E foi. Foi mais um episódio da saga “Conversa pra boi dormir”. Protagonizado por oficinas, desenvolvidas na ingênua didática Zoop, de nível Fundamental I, onde só se falava como ficaria o “Parque do Ingá” depois do “banho de loja” que iria receber com o projeto da Suplan, que previa transformar aquela região num cenário arquitetônico “para inglês ver”. Primeiro, se expulsaria a senhor Renato do prédio que ocupa nas imediações da Pedra e depois se demoliria a estrutura ali existente, por serem ambos obsoletos e, portanto, descartáveis, e se construiria uma mega-estrutura.

Impressionou a falta total de maturidade dos dirigentes do evento, que não ficou bem claro quem eram, mas, pela metodologia exposta, me lembrou as reuniões do Sebrae no Cariri, que previam o absurdo de transformar aquele semi-árido em oásis turístico. A propósito, aquele projeto só resultou em reuniões morosas e nada mais. Coitado de quem acreditou e investiu nesta utopia.

 No ingá, ninguém falou em experimentar, o negócio era destruir para reconstruir “melhor”. E se não desse certo? Como não deu no Vale dos Dinossauros, onde há uma mega-estrutura esquecida no meio da caatinga. Nem os sapos vão ali com medo de torrar.

Eu pensei que a preocupação se pautaria na preservação da Pedra do Ingá e não em embelezá-la para o turismo. Bem ou mal, ali recebe visitantes e aquele bar próximo dirigido por seu Renato, de certa forma, vigia a Pedra contra o vandalismo. É muita arbitrariedade e loucura mudar de maneira radical aquela situação sem experiências prévias. Acho sim, que se deve fazer uma boa estrutura para a visitação da Pedra, mas aos poucos, analisando e solucionando os impactos negativos que venham porventura a surgir. O Ingá não precisa ser reconstruído, mas reformado.

A única certeza que trouxe daquela solene reunião é de que, como sempre, não vai resultar em nada. Ainda bem que não perdi de toda a viagem, pois aproveitei para fazer novas amizades, sondar informações e reencontrar velhos amigos.

 

*Historiador