Pular para o conteúdo

Partido Pirata defende o fim das eleições no Brasil; em construção no país, legenda se prepara para pleito de 2016

Fundado em julho de 2012, em convenção nacional realizada em Recife (PE), o Partido Pirata do Brasil (Piratas) quer mostrar que não é mais um amontoado de letras na composição de uma sigla. Impedido de disputar as eleições deste ano, por não ter conseguido o número mínimo de assinaturas populares (500 mil assinaturas), o partido foca nas eleições de 2016 e está de olho nas câmaras municipais.

O Partido Pirata é uma organização política internacionalmente reconhecida, com atuação oficialmente registrada em 32 países, com representantes eleitos na Alemanha, Espanha, Suécia, Suíça, Áustria, República Tcheca, Finlândia, Croácia e Islândia. Segundo o Piratas, ele foi o primeiro partido brasileiro construído via Internet, com recursos obtidos por intermédio do financiamento coletivo.

Conforme Alexsandro Albuquerque – coordenador nacional da Regional Nordeste – a coleta de assinaturas foi potencializada. Ele destacou que uma das metas da legenda é a democratização da Internet. A defesa das minorias é outra bandeira do partido, que defende o fim das eleições.

“É a nossa utopia, para que as pessoas não precisem mais de representantes e elas mesmas possam propor as ideias, as leis e discutir e aprovar as leis. E aí não sejam mais necessários representantes para decidir por essas pessoas”, disse Alexsandro Albuquerque. Contraditório? Não. É a essência anarquista do Partido Pirata do Brasil. Abaixo, leia a entrevista com Alexsandro Albuquerque, do Partido Pirata do Brasil: MaisPB – Quais as bandeiras do Partido Pirata?

Alexsandro Alburquerque – O Partido Pirata do Brasil tem uma trajetória diferente. Ele começa em um processo de discussão e de debate para construir suas propostas. Então, ele não começa com uma tese pronta como a maioria dos partidos. Traz algumas propostas que são comuns a todos os partidos piratas do mundo. É preciso entender que o Partido Pirata é um movimento mundial. Uma das bandeiras é o direito à privacidade, principalmente no ambiente de internet; direito ao acesso à cultura e à informação. E por conseguinte, direito ao compartilhamento livre de informação e cultura. É preciso que as informações públicas sejam de fácil acesso público. A forma como essas informações são colocadas dificultam o acesso.

MaisPB – Defendem a democratização da Internet?

Alexsandro Alburquerque – Sim. Mas, também o Partido pirata do Brasil entra em questões mais objetivas do Brasil. Nós temos também bandeiras que extrapolam as questões digitais. Temos causas pétreas, que são o norte do partido. Temos como causas os direitos humanos e a defesa das minorias, das mulheres, das crianças, dos negros. É muito forte no Partido Pirata. E isso ocorre de forma diferente. Nosso partido não apresenta bandeiras para que você defenda. É uma plataforma para os ativistas. Não é formado por políticos. É formado por ativistas.

MaisPB – Vocês não conseguiram assinaturas o bastante para disputar as eleições deste ano. Qual a estratégia para conseguir e disputar as eleições de 2016?

Alexsandro Alburquerque – Começamos o processo de coleta de assinaturas. Não vamos disputar as eleições deste ano e não estamos apoiando nenhuma candidatura. Queremos disputar as eleições de 2016 [quando serão eleitos prefeitos e vereadores]. As estratégias são locais. Estaduais. Cada Estado, cada núcleo, cada coletivo em cada Estado traça sua própria estratégia. Ela ocorre em eventos como os Ocupes, como o que acontece neste momento em Recife, o Ocupe Estelita. Já em 2012, antes mesmo da convenção do Partido Pirata já havia membros do partido no Ocupe Estelita. Muitos dos organizadores do Ocupe são fundadores do Partido Pirata do Brasil.

MaisPB – Vocês estavam nas manifestações de junho do ano passado… [quando houve passeatas e quebra-quebra em dezenas de cidades do país]?

Alexsandro Alburquerque – Não nos apropriamos dos movimentos nem dos ativismos. Não costumamos dizer que o partido fez, mas que integrantes do partido participaram dos movimentos. Os ativistas são maiores que o partido.

MaisPB – Esse ativismo ocorre também de maneira virtual?

Alexsandro Alburquerque – Sim. Acontece. Na Internet ele acontece, mas extrapola a Internet. A Internet serve muito mais como canal de comunicação e organização. Isso ocorre até em chats. Mas, sai do mundo virtual para o mundo real. Há membros do Partido pirata, por exemplo, que foram escolhidos como membros de conselhos de operadoras de telefonia [em defesa do consumidor].

MaisPB – Vocês pretendem disputar os cargos majoritários?

Alexsandro Alburquerque – Não. Nosso foco principal é o legislativo. As câmaras, as assembleias estaduais e o congresso nacional. A longo prazo, nossa meta é a democracia plena. Democracia plena chegando a todos. É a nossa utopia, para que as pessoas não precisem mais de representantes e elas mesmas possam propor as ideias, as leis e discutir e aprovar as leis. E aí não sejam mais necessários representantes para decidir por essas pessoas.

MaisPB – Tem um quê de anarquismo…

Alexsandro Alburquerque – Sim. Porque vem da Internet. É um partido que traz consigo a horizontalidade. Na Internet você não barra as pessoas e não tem essa verticalidade desse mundo real. Essa horizontalidade já dá esse ar de anarquismo. Temos também a questão do livre debate. Hoje usamos um um sistema online de liberação. Qualquer membro do partido pode propor a ideia, que entra em discussão e entra em votação. Ele tem acesso direto a qualquer membro. A gestão do partido é feita por membros eleitos, mas os membros não tem poder de decisão. Qualquer decisão ocorre a partir desse sistema.

Jãmarrí Nogueira – MaisPB