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CORAÇÃO MAGOADO ( MARCOS SOUTO MAIOR (*)

 

           Não se tem como julgar quem é mais forte, ao receber uma pancada no coração palpitante, se o homem ou a mulher. Acabou-se aquela história antiga de sexo frágil das meninas com direito de cada qual decidir, nos precisos limites do que deseje fazer!                Alguns chegam a dizer que coração é terra de ninguém e cada qual deve decidir abertamente, pelo gosto doce ou o amargo dos alimentos físicos e mentais. É de vital importância que o sangue quente seja fielmente bombeado para o âmago de cada pessoa, em todos os tempos da vida. Agora, sem carinho, fidelidade, abnegação e, principalmente amor, jamais a alma poderia evitar a falência amorosa entre personagens.

                               Para o casal, fica muito difícil determinar quem foi o desencadeador do rompimento da convivência, desde um bom tempo. Imaginável, quando cada lado apresenta explícitas razões que comportariam incontidas lamúrias. Bem guardadas, é verdade, na simplicidade de uma mala de couro, ou mesmo, um cofre forte de intimidade com senha para cada um…

                               Félix e Alice deixaram-se enamorar, de forma tão profunda e exagerada, que caíram nos encantos de uma paixão febril, se é que se pode dizer que esta tem limites! No dia a dia não perdiam tempo na encenação duma verdadeira cerimônia teatral, utilizando desde as vestes, externas ou internas de cores fortes, joias, perfumes, cabelos penteados, unhas pintadas, talco, desodorantes e finalmente, as conversas em vozes macias como veludo.

                               O tempo passa velozmente, o peito cansa incontrolavelmente suas batidas fortes, atingindo desesperançados segundos da vida. As potentes badaladas do relógio da sala, não mais chegavam a ponto de conduzir o casal aos momentos de rotina se rendendo a mesmice do cotidiano, com conversas azedas, passeios repetitivos, ausências de carinho, abstinência das relações sexuais, tudo, como se fossem refeições diárias do tipo feijão com arroz. As aurículas e os ventrículos não se deixam apáticos continuando a impor o seu ritmo para mais apertar, na ânsia de fazer circular o necessário sangue do amor, quando se torna a convivência mal resolvida.

                               Trocas de olhares de fogo se entrelaçavam com especial cuidado, virando o pescoço e nariz arrebitado, como se houvesse falando a si mesmo e, defronte de um espelho em cima de balcão do banheiro. Ao chegar o rompimento, as sombras do casal se apagam, deixam um amargo seco na goela para dar espaço à indecisão no instante mágico e passageiro. Nítida era a possibilidade de ser apagada a luz do casal, deixando marcadas cicatrizes nas entranhas. Sem conserto, a vida íntima fica encerrada com os olhos secos sem deixar escorrer uma única lágrima… Aí, tanto o espelho como o coração têm consequências iguais quando se afastam do foco para olhar o infinito inacessível.

                               Noutra cadência de batidas o coração desprezava o lixo amoroso, imprestável para os dias atuais, embora guardados nas lembranças que não voltariam mais, por deixar de ser importante. A desilusão aprofunda quando amigos, de forma desavisada, insistem na recordação indesejável de um sonho que se transformou em pesadelo sufocante.

                               O dia amanheceu sob os efeitos de um sol de verão. Apagou-se a sonhada fantasia de ambos, agora acordados, se abraçando na cama macia com lençóis e travesseiros cheirosos de puro linho. Troca de olhares, um tímido sorriso e, a vida abriu espaço para continuar!

(*) Advogado e desembargador aposentado